Blog do Carpinejar

A INFIDELIDADE É PENSADA

Antes de trair, existe um longo caminho.

Não é simples, fácil, automático, como se convenciona.

São várias possibilidades de dizer não. Infinitas chances de suspender o encontro. No plano físico, até chegar à cama, tem o carro, tem o estacionamento, tem o corredor, tem a porta, tem o quarto.

Quantas vezes você é interpelado pela consciência e não atende o chamado?

Toda traição envolve um pacote de telefonemas, de conversas no WhatsApp ou Facebook, de insinuações, de perguntas, de testes, de provocações. Não se realiza de graça.

É necessário definir um motel ou um local discreto, procurar álibis, fingir reuniões. Exige o trabalho de ocultar pistas e apagar mensagens, de se trancar no banheiro, de inventar passeios e lapsos para se ver sozinho e falar com privacidade.

Trata-se de exaustiva sonegação da honestidade.

Ninguém é forçado ao envolvimento. Ocorreu detalhado plano e um esforço para se obter a conquista. O chifre não aparece por tele-entrega, não é apenas olhar alguém e concluir, num passe de mágica: vamos transar.

É uma sucessão de tolerâncias, agrados, elogios e omissões trocada entre duas pessoas que culminam com o sexo.

No percurso, vem esquecendo propositalmente de dar conta de alguém importante, vem esquecendo do fundamental: aquele ou aquela que divide a vida com você. Não porque ela ou ele sumiu, mas porque descarta o compromisso pela adrenalina da aventura.

Não se trai sem mentir, sem responder para o namorado ou namorado, para esposa ou marido, que está em um lugar diferente. A deslealdade é a primeira vítima dos amantes.
Guarda a ciência do erro desde o início. Quando desliga o celular, quando coloca o celular no silencioso, quando assiste o seu amor ligar várias vezes à toa.
A cada beijo ou abraço no estranho ou na estranha, está deixando de beijar e abraçar quem prometeu a verdade.
A infidelidade é premeditada, pode-se voltar atrás a qualquer instante. Se não retorna, assumiu as consequências. Não tem como alegar que foi fortuito, um azar, um erro, coisas da hora. Não adianta justificar que foi um fato isolado e que não significou nada. Aconteceu bem antes de acontecer.

Crônica publicada em 01/6/2018

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