AMIGAS SÃO MAIS QUE AMIGAS
Arte de Fatturi
As mulheres são incríveis.
Elas têm amizades para todas as tarefas e assuntos. Não dispensam uma segunda opinião. Sempre coletivas em suas decisões.
Perguntam até o que já sabem, para não sacrificar o costume, para ter certeza de que fizeram a melhor escolha.
Enquanto o homem é genérico, elas são específicas, altamente especializadas. Não querem correr o risco de se enganar, de cometer uma injustiça e unem suas curiosidades e somam seus talentos. Odeiam serem passadas para trás, adquirir algo pelo dobro do preço e sofrer os juros da pressa.
Minha namorada Katy, por exemplo, quando vai comprar roupa conta com a escolta de duas amigas.
Suas amigas superam a condição de amigas, ganham a dimensão de consultoras.
Ela parte para o shopping com uma ou com outra, jamais convida as duas juntas.
Por quê? Cada uma atende um propósito diferente.
A Letícia é chamada quando é o caso de garimpar peças e promoções. Há uma cota X para gastar e não tem como extrapolar. É a companhia da grana curta, da economia, com o faro do particular e do acessível em grandes lojas. Opera milagre com pouco. Transfigura água com gás em vinho. Ajuda a Katy a cumprir a meta. Não foram poucas as vezes em que ela voltou com sete peças festejando o orçamento de R$ 350.
Já Júlia é convocada no momento de uma superfesta, na hora de esnobar as etiquetas. É para procurar O Sapato, O Vestido, A Blusa, o artigo definido do figurino. As duas tumultuam as lojas mais chiques. Sequer mexem nos cabides, despem logo os manequins da vitrine. Saída fadada à falência e para se arrepender do exagero cometido com as demais amigas.
Depois que regressa da expedição nababesca, Katy não realiza propaganda nenhuma, permanece calada, nunca confessa quanto gastou, e suspira mais seguido diante do espelho. Ela adquiriu uma saia na última semana e nem por chantagem abrirá os dígitos do investimento.
A Letícia é a inteligência da simplicidade, colega com traquejo para caçar nas araras um modelo incomum, revirar pilhas, bagunçar os provadores e aproveitar o que quase saiu de moda, mas ainda mantém o toque eterno do estilo.
Júlia é o equivalente a um sequestro. Compõe o momento faraônico, de puro e insano arrebatamento. É uma boa orientadora do que entrará em estação, da cor dominante, dos acessórios de tendência. Cúmplice da bebedeira consumista, com direito a ressaca e esquecimento financeiro nos próximos meses.
Ao partilhar suas dúvidas, a mulher encontra testemunhas de sua felicidade. O que é uma obrigação se transforma em intimidade, o que é um passeio se converte em autoconhecimento.
Comprar roupas é vestir amizades.
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 15/09/2013 Edição N° 17554