AMOR TRISTE
Foto: Gilberto Perin
Não sofremos tanto quando a separação é justa e fizemos por merecer. Aceitamos o fim por mais penoso que seja, porque vislumbramos um motivo para não estarmos juntos. Tem uma explicação pontual, um desvio de percurso, uma quebra de lealdade que feriu e destruiu a confiança mútua. É de se entender a ruptura pelo contexto de uma mágoa.
Amor triste não é aquele em que nos arrependemos das brigas e das discussões, das ofensas e das maldades, pois é natural se destruir quando se gosta muito.
Amor triste, ironicamente, é quando nos constrangemos da própria alegria, nos arrependemos dos momentos felizes, das viagens e passeios, dos presentes e dedicações. Nem a euforia que existiu fica de pé. Nem as fotografias mais bonitas sobrevivem.
É quando saímos da relação com o nítido pressentimento de que estávamos sozinhos desde o início.
É aquele amor esvaziado, que não nos serve de experiência, que não nos aperfeiçoará para futuros laços, não nos acrescentou em nada para aprendermos a lidar melhor com a dor.
É aquele amor melancólico, onde chegamos à conclusão da total perda de tempo, a ponto de lamentar o sacrifício da nossa juventude e de anos valiosos da vida.
É aquele amor ladrão que nos leva inclusive os finais de semana e as férias, a paz de ter tentado, o alívio de cenas emocionantes.
É aquele amor desmemoriado, no qual erramos a companhia muito mais do que errar qualquer passo durante a convivência. Até o contentamento soa falso, até a festa era para dentro.
Amor triste é o que não deixa saudade nem do que foi bom.
Publicado em O Globo em 21/07/17