CADEIRINHA PARA O INFERNO
Arte de Francis Bacon
É uma cilada quando a mulher diz ou o homem diz que pode confiar e contar a verdade. Seja infidelidade, seja deslealdade: o resultado não será agradável. Nunca é.
Não há como planejar passionalidades. Ou antever qual a reação diante de uma confissão.
A paciência é uma isca para confidência. Todo mundo é tranquilo antes. Todo mundo é beato na desinformação.
Lá está sua esposa, calma, amorosa e querida, avisando que o importante é a sinceridade e que não precisa ter medo de que ela vai entender qualquer coisa. Que ela sempre estará junto, que a natureza do erro não terá nenhum peso na decisão.
Você se enche de coragem, abre a boca, fala a besteira que fez e toma uma porrada na cara.
O que queria? Mereceu! Já viu alguém perdoar por antecedência? É como vender cadeirinha para o céu.
Sem saber o pecado, não há como adivinhar as consequências.
Não há fiado de castigo. Não há como comprar o perdão a prazo.
A dor custa caro. Não promove desconto, exige o troco, exige o mínimo centavo de volta.
Curioso que as pessoas acreditam que podem controlar suas emoções. Que realmente podem prometer um comportamento equilibrado e santo. Que não vão sofrer nenhum baque, nenhum susto com aquilo que será revelado.
É uma falsa onipotência. Nunca descobriremos como vamos receber uma notícia. Alguns gritam e esperneiam, outros são mansos e indiferentes.
É um enigma, um mistério. Somos imprevisíveis no amor e na amizade.
O justo é não antecipar respostas. Perante uma tristeza, você nunca saberá o que vai sentir. Ou deixar de sentir.
Ouça o comentário que fiz na manhã de sexta (4/5) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Fernando Zanuzo: