CASAMENTO DAS CINZAS
O amor é insuportavelmente misterioso.
Você jura que viu tudo, mas descobre uma nova cena que desconcerta a razão e combate o pessimismo dos relacionamentos.
Cada vez mais vejo que não sei nada sobre o assunto, sou um menino contando as estrelas até cansar. Minha astrologia é o brilho do olhar repercutindo a cintilação dos astros.
Não me fio na ciência exata. Amor para mim é como a humildade da lua, o que era minguante um dia se transforma em balão amarelo e cheio na madrugada.
Eu me deslumbro com a poesia dos gestos, pois o romantismo finou para quem não se entregou a fundo para alguém: ficou na metade das palavras por dizer, cansou no calor de uma briga ou no frio do punhal de uma discordância, desistiu de insistir antes dos laços consolidados.
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.56
Porto Alegre (RS), 27/12/2015