Blog do Carpinejar

DESCURTIR MIL VEZES

Arte Irina March

Uma amiga estava no começo do namoro quando seu namorado ciclista perguntou se ela andava de bicicleta. Ela respondeu que não gostava. Ele não aceitou, e foi taxativo: vou te fazer gostar.

A guria murchou, com toda razão.

Vou te fazer gostar é tudo o que você não deve dizer numa relação, para nada.

Ele não perguntou: gostaria de um dia pedalar comigo?

Não, já decretou: vou te fazer gostar.

Ele não vai ensinar para que possa escolher ou não gostar, ele afirma que vai gostar de qualquer jeito. É obrigada a gostar. É condenada a gostar. É anular o direito de ter a própria opinião e personalidade.

Tem uma prepotência nesta frase. Um autoritarismo. Um exibicionismo. Uma ausência de carinho e respeito, como se fosse o melhor professor do mundo. Como se sua namorada jamais tivesse tentado e não curtido. Abstrai a experiência e o passado de sua companhia. Cria uma antipatia.

Vou te fazer gostar de política.
Vou te fazer gostar de cinema chinês.
Vou te fazer gostar de comida japonesa.
Vou te fazer gostar de funk.
Vou te fazer gostar de dançar.
Vou te fazer gostar de Carpinejar.

Pode inspirar com o exemplo, com sua alegria, jamais com a obrigação.

Obrigar o outro é desamor.

Ouça meu comentário na manhã de sexta-feira (01/8) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antônio Carlos Macedo e Andressa Xavier:

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