Blog do Carpinejar

DUVIDO




Texto Fabrício Carpinejar
Imagem Eduardo Nasi


Sou o guri do duvido. Se alguém me desafiava na infância: duvido que você pule no rio, então eu pulava. Ou duvido que você quebre uma vidraça, então eu quebrava. Ou duvido que você caminhe na ponte balançando, então eu corria entre as tábuas soltas. Ou duvido que suba na árvore, então eu subia. Ou duvido que você dê em cima daquela menina, então eu ia. Poderia me arrebentar, me espatifar, ser humilhado, mas não recuava diante das provocações. Assim como existe a “Maria vai com as outras”, eu era o “Zé não vai com os outros”.

Não recuava quando encarado com uma negativa. Os amigos adoravam os shows gratuitos de tenacidade. Fui dublê de mim mesmo. Nadava contra a corrente, pedalava em tempestades, enfrentava riscos à toa para manter a fama de durão e não desperdiçar a firmeza da promessa.

Não previa os danos, eu me cegava de raiva e me atirava no calor das casualidades. Segurei na barra de fora do ônibus, surfei ondas proibidas, ri de medo do destino.

Minha bravura sempre foi induzida, multiplicada na oposição.

As decisões vinham das provocações mais do que da própria vontade. Eu me irritava com quem oferecia desdém e pouco caso da minha capacidade e vivia provando a força.

Nem é possível calcular o que realmente fiz em minha vida espontaneamente. Amores foram dobrados, amizades foram testadas, metade dos meus porres seguiu o tom de que não iria conseguir, assumi  castigos insuflados pelos irmãos e suspensões na escola para satisfazer quimeras dos colegas. Sou um animal da recusa.

Não duvido de que a minha coragem seja apenas orgulho.

Publicado no Portal Vida Breve
Coluna Semanal
12.10.2016

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