Blog do Carpinejar

E A POLIGAMIA?

Arte de Wilfredo Lam

Se a poligamia fosse lei, nada seria fácil.

Alegria em excesso desanda em embriaguez e termina em ressaca e dor de cabeça. O prazer em dobro triplica a incomodação. Imagine vocês, mulheres, com a possibilidade de se casar com dois homens.
Marmanjo junto é máfia de criança. Eles ficariam na sala jogando videogame nas folgas, gritando, bebendo cerveja e pedindo mais uma revanche.

Voto minoritário na programação, perderia o comando da tevê, não contaria com a complacência para assistir a seriados e filmes românticos.

Seus dois maridos seriam melhores amigos, alimentariam segredos entre si e responderiam tudo de maneira monossilábica para evitar discussões. Restaria o chuveiro para chorar.

A privada nunca teria a tampa abaixada, os frascos e as garrafas jamais estariam bem fechados, as bandejas de gelo morreriam vazias.

Os homens de casa fariam aquelas porquices masculinas – arroto, flatulência, palitos e cotonetes sujos em lugares improváveis – e passariam o dia impunes porque estariam em maioria dentro da residência.

Uma toalha molhada na cama irrita, agora ponha duas em sequência e os lençóis formarão um repentino banhado. Pense o que seria dirigir um carro com dois copilotos palpitando sobre o melhor caminho ou pressionando para estacionar numa vaga do tamanho de uma bicicleta?

Raciocine a frustração de aparecer com corte novo no cabelo e nenhum dos dois reparar a mudança. Mentalize o constrangimento de dissuadir sexo ao despertar com dois homens excitados roçando suas pernas quando você ainda nem escovou os dentes ou tomou café da manhã.

Pois é. O paraíso mora dentro do inferno.

Agora sonhem vocês, homens, com a chance de subir ao altar com duas mulheres ao mesmo tempo.
O que significaria contentar duas sogras? Aguentaria almoçar na casa de uma no sábado e depois em outra no domingo? Sabe o desespero que é quando uma mulher não consegue hora com sua manicure? Pois preveja duas não conseguindo um encaixe e entrando em pânico.

Multiplique a demora para sair a uma festa, tem paciência? Acompanharia a dupla pelo rali dos provadores dos shoppings? Onde deixará suas roupas ao dividir o armário com duas mulheres? Na despensa da cozinha? Dentro de uma mala debaixo da cama?

Se é uma maratona fazer uma mulher gozar, como satisfazer duas? Não poderia pregar os olhos antes de cumprir a tabela. E não invente de adiar o prazer de uma delas para o dia seguinte sob o risco de difamação.

Seria obrigado a decorar duas datas de aniversário, de início de namoro, de primeiro beijo, de primeiro abraço, de primeiro jantar, de primeira festa, afora peculiaridades de gostos e tamanhos da roupa. E nunca poderia confundir a com b, o que geraria uma crise ciumenta sem precedentes.

Casado com duas mulheres, gastaria metade de seu tempo curtindo e comentando as fotos delas nas redes sociais. E ai se visualizasse uma mensagem no whatsapp e não respondesse no ato. Ou se respondesse uma e esquecesse a segunda.

A exclusividade é um luxo. Não reclame de monogamia. Não é à toa que o Carnaval só dura quatro dias.


Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.32
Porto Alegre (RS),  8/03 /2015 Edição N°18095

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