É BIG É HORA
Arte de Eduardo Nasi
Zoeira de adultos é ingênua perto de uma festa infantil. É mais poluição sonora do que visual. O máximo que encontrará depois da farra são alguns copos quebrados, marcas circulares na estante, cervejas nas janelas e guimbas dentro de pratos. Não trará tanto trabalho para limpar. Resolverá a baderna em um único dia.
Já uma festa de crianças… É melhor fazer uma reforma, a faxina não dará conta.
A bebedeira de gente grande produzirá talvez um banheiro sujo porque alguém passou mal. Nada que o detergente não conheça.
Os pequenos é que encarnam os verdadeiros vikings, hunos, bárbaros dos alicerces da casa. Suas distrações e brincadeiras apresentarão alto índice de danos materiais.
Além de vidraças quebradas por bolas, esculturas sem cabeça e varais transformados em cipós de floresta, o cenário destrutivo é altamente criativo. Ninguém destrói com tanta criatividade quanto às crianças. Elas são dotadas de uma curiosidade insaciável, feita de misturas explosivas. Conhecer algo é também destruir. Suas mãos formam tubos de ensaio agregando sempre um produto desconhecido. Só desistirão de mexer depois de quebrar ou explodir.
Pai de dois filhos, travei longo contato com a horda refinada de invasores.
Dificilmente sua privada funcionará novamente, e não pense que é devido ao inofensivo papel higiênico sujo jogado ao vaso. Alguém colocará uma caneta no canal. Estará muito próximo de ver uma réplica perfeita de Veneza pelos corredores e transformar seus sapatos pretos em mal-humorados gondoleiros.
As instalações infantis não terminam por aí. Haverá refrigerante espalhado pelo chão inteiro — não existe algo mais gosmento do que refrigerante. Pisará com barulho de chiclete durante os próximos meses.
Brigadeiros estarão esmagados na entrada da cozinha. Pela aparência pastosa, terá que se aproximar para definir se não é cocô do seu cachorro.
Paredes receberão desenhos espíritas de Miró e Picasso.
As tomadas guardarão a cobertura de chantilly da torta de aniversário.
Achará ainda salgadinhos mofando debaixo das almofadas do sofá, após longa e exaustiva inspeção do que vem fedendo na sala.
Localizará estranhamente uma meia suja na geladeira, e se perguntará como ela surgiu na gaveta de verduras.
O teto ganhará camadas de pigmentos vermelhos, que não faz a menor ideia do que seja: Gelatina? Suco?
Trate de não pensar para não enlouquecer. O grande problema da festa infantil é que a sujeira aparecerá em lugares improváveis. Levará muito tempo até solucionar todos os crimes.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira 19/08/2015