Blog do Carpinejar

FÁCIL SE SEPARAR, DIFÍCIL VOLTAR



Texto Fabrício Carpinejar
Imagem Gilberto Perin

Você se separa por pouco e só volta por muito.

A ruptura aconteceu por uma bobagem, já a reconciliação invoca sérias mudanças.

Se a distância surge por um troco, retomar a proximidade pressupõe uma fortuna.

Excluindo a separação pelas razões radicais de infidelidade e incompatibilidade, ela tende a ser desencadeada por nada: uma diferença que transbordou ou uma grosseira fora de hora. O estopim das crises vem de pretextos bobos, ou é o lixo que não foi levado, ou é a louça que não foi lavada, ou é um ciúme gratuito. Ninguém se separa por grandes causas, em defesa de um plano educacional ou em nome da reforma agrária. A separação é deflagrada por motivos banais e egoístas, não emerge de conflitos ideológicos e argumentações generosas a favor da coletividade.

Por sua vez, o retorno vira uma epopeia, ninguém aceita o outro de volta facilmente.

Se quebrou os pratos porque recusou gastar em um pulo à serra agora o ressarcimento da união  depende de uma viagem internacional.

É simples se separar e é extremamente difícil voltar. A separação é barata, a reconciliação é cara.

Do grito de nunca mais à súplica por mais uma chance, migrará da avareza ao endividamento.

Para resolver as discussões de relacionamento, bastava atender a uma mera lista de supermercado. Após o término receberá uma lista de exigências de sequestrador.

Para a reconciliação, você precisa fazer em um dia o que não fez durante toda a relação. Não é somente corrigir o que originou a discussão, fica condicionado a cumprir o que gerava silenciosa insatisfação na companhia. O suave retoque e as rápidas aparas no temperamento cobrados anteriormente não servem mais, resgatará o status mediante uma completa cirurgia plástica na personalidade.

Na briga, é se desculpar que os laços são refeitos. Na reconciliação, não é somente verbalizar o perdão, você será  testado e humilhado, condenado a provar o efeito das palavras em atitudes e gestos em longo período de experiência.

Ou seja, para obter o reato você perdeu absolutamente tudo o que conquistou e mais um pouco. Não está na estaca zero, mas no negativo, arcando com juros abusivos.

Na hipótese de sair de casa por um desentendimento na programação de sábado, para recuperar o amor, será obrigado a largar o futebol de terça e o chopp com amigos na quinta, que não tinham nenhuma conexão com a pendenga. Retornará para a residência mais pobre moralmente e com menos autoridade do que quando partiu. Assumirá privações para liquidar a saudade e aceitará concessões impensáveis para convencer que o fim não irá se repetir.

Se você se separou porque não queria assumir o namoro, apenas conseguirá a mulher de novo ao pedi-la em casamento.

Pense duas vezes antes de se separar para não pagar quatro vezes mais a volta.

Publicado no blog do Jornal O Globo
Coluna Semanal
07.10.2016

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