Blog do Carpinejar

FALSAS AMEAÇAS

Arte de Eduardo Nasi

A imobilidade é um grande passo no relacionamento.

Confie mais no silêncio do que naquilo que você ouviu. Garanto que dá certo.

Estará encrencado na hipótese de realizar ao pé da letra o que escuta.

Desconfie do que vai sendo dito na raiva ou no deboche. Busque descobrir o sentimento por detrás da frase.

Na dúvida, não se mexa.

Quando sua esposa manda “Vá sem mim”, já furiosa ao experimentar a enésima roupa, não invente de atender ao apelo.

Não seja idiota de sair porta afora. Muito menos conforte com aquela sabedoria de maçaneta, apenas sente no sofá e espere.

Não é encenação, mas ela não deseja isso. Vê o delicado paradoxo: é uma verdade somente sentimental.

No instante em que terminar de se arrumar, no seu tempo infinito, no tempo que não levará em conta o horário de um compromisso, ela surgirá silenciosa e segura, como se nada tivesse acontecido.

E nada aconteceu depois que tudo foi posto para fora. E tudo continua acontecendo quando nada é declarado.

Falar elimina a confusão para a mulher. Não falar cria perigosa culpa. Mas precisa falar e sem nenhuma interferência, o que é importante saber.

A mesma reação impassível deve adotar quando ela esbravejar “vá comer uma puta”, diante de sua insistência por transar. Não siga o conselho, é fria, a fidelidade nunca será cafetina.

Ela simplesmente vem pedindo espaço, que não fique perto, por cima, pois a intimidade cansa. Não é falta de amor ou de atração, é irritação momentânea.

Não julgue como uma sentença definitiva. Não comece a fantasiar putarias, por mais que lhe cresça a vontade e queira chamar os amigos para festejar o passe livre.

Ela não aguenta ser pressionada no trabalho, na família, e agora no sexo. Relaxe, assista a tevê, leia um livro, que ela virá despretensiosamente, dona de si.

Tampouco acate se ela ordenar “vá morar com a sua mãe”. Não pense que é uma grande ideia, não prepare as malas, não sinta saudade da superproteção materna, de comida e roupa lavada.

Acreditar em sua mulher é também não acreditar sempre.





Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira 22/07/2015

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