FESTA DA FIRMA
Arte de Eduardo Nasi
Como você ficará à vontade sabendo que não pode beber, não pode dançar loucamente, não pode contar piadas, não pode falar mal de ninguém, em especial de seu chefe? Carregue um “Google tradutor” embutido em sua boca para converter o gordo, o careca, o idiota e o imbecil em colaborador, integrante do time e parte da família.
Para que largar o conforto do lar? Não tem sentido, o equivalente a dizer que cocô de passarinho na cabeça traz sorte.
Mas, se não aparecer, o povo comentará que é azeite, prepotente, não quer se comprometer e que dispensa as relações interpessoais.
O que é obrigação nunca será diversão. A risada precisa ser cínica e controlada, pois a gargalhada já indicará alto teor alcoólico. É recomendável que seu figurino não chame a atenção. Não use combinação extravagante, muito menos formal em demasia. Em suma, irá com a mesma roupa que costuma trabalhar.
Bajulação é desagradável, assim como a honestidade. Cumprimente a todos, não puxe assuntos a fundo. Jamais traga problemas pendentes do ambiente corporativo, e igualmente não abra a sua vida. O correto seria não existir marcando presença.
Como não há meio-termo na descontração, é mexer o tronco dentro de uma camisa-de-força.
Tocará funk e não descerá ao chão. Tocará sertanejo universitário e não levantará os braços. Nem “Lepo lepo”, nem “Paredão metralhadora” serão capazes de abrir a pista para coreografia, qual a graça?
Você deverá recusar tudo o que é bom. Não deve comer em excesso para não ser morto de fome, não deve se envolver com a colega para não misturar amor e emprego. Em hipótese alguma, não ser o primeiro a chegar e também não inventar de ser o último a sair (nenhuma festa é inesquecível se saímos cedo, não é verdade?).
Encontro da firma não é lazer, e sim hora-extra no final de semana e adicional noturno. Só os estagiários não entenderam isso e brindam ao futuro, ingenuamente alegres, com seus copos de plástico.