FILA DO AMOR
Arte de Edward Hopper
Quem amamos sempre deixamos para depois. Porque é da família e vai entender a urgência de nosso trabalho.
Um minutinho, meu filho./
Já te ligo, amor./
Agora estou ocupado./
É uma ligação importante.
Só que o filho cresce e para de nos procurar.
Só que o pai morre e não descobrimos o que ele queria.
Só que a esposa se cansa da solidão e pede o divórcio.
Reclamamos da fila da Previdência, da fila do SUS, da fila dos bancos.
Mas os familiares vivem em fila para serem atendidos dentro de casa.
É a fila do amor que não anda. Do amor que pensa que terá tempo em seguida.
O tempo adiante será o mesmo tempo de agora. A mesma falta de tempo.
Filhos pequenos são mendigos em seus quartos, esperando que você desligue o telefone, que você preste atenção.
Maltratamos quem a gente gosta com adiamentos e desculpas.
A vida passa e a promessa de conversa não se realiza. E não sabemos o que o nosso menino estudou, o que a mulher criou no trabalho, o que a mãe precisava comentar sobre seu passado.
Abandonamos a família porque desejamos ter calma. Ter folga. Ter férias.
Melhor falar nervoso do que não falar.
Melhor um pouquinho junto do que nada.
Melhor o rascunho do que a idealização.
Interrompa suas atividades para ouvir a família. Mesmo que seja rápido. Mesmo que seja de qualquer jeito.
A conversa é do momento, a conversa é um momento.
É possível desistir de dizer. É possível perder a vontade.
Não existe como recuperar lembranças.
Cuide da família. Agora!
Ouça meu comentário de sexta (25/5) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola: