GORDINHO
Arte de Fernando Botero
Eu fiquei gordinho.
Não sei como aconteceu. Mas eu fiquei com aquela barriguinha de cerveja - eu que não tomo cerveja!
Virei um magro barrigudo.
O homem não percebe quando engorda. É diferente da mulher que tem uma balança em seus olhos e controla seu corpo todo o dia.
O homem engorda e acredita que foi uma fatalidade, uma distração, inveja da ex.
É como um crime que cometeu e não se lembra.
Nenhum amigo avisa, a mãe nos elogia e assim nos engana, os filhos não sentem nenhuma diferença.
Eu não sei como engordei. Não sei como mudei de categoria e fui do peso galo para o peso pesado.
Vi meu corpo de lado no espelho. Havia um travesseiro na cintura. Havia uma pochete na cintura.
Não dava mais para encolher o excedente durante as fotos. Fingir que não era comigo.
Não me levei a sério, vivia me adiando: logo emagreço de novo.
Pensava que era inchaço, dor de barriga, cólica. Mas não perdi uma grama sequer, apenas acumulava peso.
Já usava a barriga como escrivaninha para escrever, já usava a barriga como apoio para carregar objetos, já brincava de gangorra no sexo, já fazia gol de barriga.
A barriga passou a ter a relevância de um braço, o prestígio de uma perna.
Posso encontrar culpados: é que parei de fumar, é a crise dos 40 anos, é ausência de exercício físico.
Mas a verdade é que comi absurdos nos últimos meses, exagerei no almoço e na janta e nos doces fora de hora. Engravidei quindins.
É barra, é triste. Quando o homem descobre que engordou é tarde demais. Já se distanciou dez quilos do seu peso original.
Agora só com lipoaspiração ou fossa de amor.
Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (21/8) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola: