HEY!
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Toca Amor de Chocolate e não simpatiza com aquele frigir de pernas, sinalizando até o momento um coração diabético. Toca Lepo Lepo e não se mexe, sequer coça o nariz. Toca Beijinho no ombro e não se levanta da cadeira. Toca Te ensinei certin e parece que não está ali.
Toca Gordinho Gostoso e a aglomeração segue longe e a algazarra estranha. Toca Metralhadora e não se motiva a sair do seu confortável lugar. Toca Aquele 1% e permanece 100% inerte. Toca Deu Onda e seus olhos são um lago parado.
Nada desperta a sua alegria. Nenhum sucesso lhe inspira a desistir da pose de zumbi e as olheiras cansadas. Segura o copo de cerveja com a cara amarrada e uma indisposição intransigente. A sensação é que veio obrigado na festa, arrastado pela esposa. Conta apenas os minutos para ir embora, fazendo aquele tempo mínimo para entregar a prova do vestibular.
Mas é ouvir a primeira estrofe da canção mais famosa da dupla espanhola Los Del Río, “Dale a tu cuerpo alegria”, que o cidadão simplesmente enlouquece e corre para a pista, convoca todos ao redor e se põe em posição de sentido para coreografar. É uma transformação súbita e inesquecível, tal amigo solitário e de poucas palavras no expediente que se converte, de uma hora para outra, em drag queen majestoso e loquaz.
O sujeito abandona a imobilidade naufraga e a ilha deserta da mesa para se sobressair na metrópole do globo rodando e das luzes piscando. Não é possível compreender a rapidez da mutação. É como um milagre, é intervenção divina, é para crer na ressurreição da carne.
Estende os braços, acarinha os cotovelos ao redor do peito, joga as mãos na cintura, rebola e já se entrega, sem reservas e pudor, para transbordar de emoção. “Hey Macarena!” – a sua voz rege os demais bailarinos de ocasião. Esquece a mulher, os antecedentes criminais dos outros, os preconceitos, e mergulha num transe somente dele. Chega a liderar quem está ao lado, piscando sucessivamente, meneando o riso, demonstrando virtuosismo na sequência e se antecipando os movimentos futuros.
Quem conhece todos os passos de Macarena não prova que sabe dançar, somente prova que está velho.
Publicado no Crônica Donna em 13/02/17