INCOMPETÊNCIA TELEFONICA
Homem prefere telefonar aos amigos sozinho. Absolutamente solitário. Como se estivesse jogando videogame. Se a namorada ou a esposa estiver presente, a conversa não irá fluir.
Homem não consegue conversar ao telefone e atender qualquer pergunta de sua mulher ao mesmo tempo. Ele se perde inteiro, gagueja, tem brancos na memória. Se a mulher começa a fazer um gesto, ele salta o tom de voz, escorrega no silêncio, espaça a voz, sacrifica o raciocínio, esguicha vogais para todos os lados, como uma mangueira ligada e se contorcendo no chão. Esquece a sua mensagem, onde está, quem é.
É apenas ela coçar a cabeça que ele se precipita em supor incêndios, enchentes, calamidades pela casa.
Homem sempre acha que está cometendo algo errado – é sua esposa fazer uma menção com as sobrancelhas ou parar em sua frente e ele cai em pânico. Vacila. Apaga. Não toca a ligação para frente.
Parece que foi desmascarado, que falou uma bobagem e ela ouviu. E agora terá que enfrentar uma discussão de relacionamento.
Homem sempre acha que está cometendo algo errado – é sua esposa fazer uma menção com as sobrancelhas ou parar em sua frente e ele cai em pânico. Vacila. Apaga. Não toca a ligação para frente.
Parece que foi desmascarado, que falou uma bobagem e ela ouviu. E agora terá que enfrentar uma discussão de relacionamento.
Homem não consegue manter duas conversas ao mesmo tempo. É obrigado a desligar. É obrigado a saber primeiro o que ela deseja.
Ele fica encabulado com alguém mandando nele. O problema do homem não está em ser mandado, mas que os outros descubram que ele é mandado.
A mulher sim, a mulher pode ser interrompida enquanto conversa ao telefone e não terminará nem um pouco constrangida. Nasceu com o telefone na orelha. O telefone para a mulher é um ponto. O telefone para a mulher é um brinco. Não se sentirá ofendida. Pode responder comicamente à mímica do marido. Pode rir de sua presença incômoda. Ou colocar o fone para o lado e fulminar, grosseira e direta: “O que foi?”.
Já o homem se despede com a pressão e explica ao amigo que depois retorna.
Ao parar tudo e ver o que a sua mulher quer, descobrirá sempre que não é nenhuma urgência. Não foi uma correção de postura. Não foi um flagrante. Não foi uma censura. Nunca é nada. É algo bobo, corriqueiro, dispensável, tipo: “Lembre do óleo de girassol quando for ao mercado”.
Publicado em Donna em 27/01/17