INESQUECÍVEL
Arte de Gustave Caillebotte
Todo homem deseja exclusividade. Ser único para sua mulher.
Não nos interessa ser o primeiro, mas o último dela.
Não custa tentar, ainda que pareça improvável, ainda que o tempo se prevaleça egoísta.
O homem tem um apelo monogâmico inadiável em si. Pode – a longo prazo – se mostrar sacana ou infiel, porém realmente está mobilizado a atravessar a posteridade das lembranças. Pretende alçar uma condição definitiva, receber chinelos de bronze, obter a poltrona no centro da sala.
É um princípio ingênuo e verdadeiro, que acaba provocando os mais atormentados dilemas morais.
Ele fala mal das ex de propósito, somente para destacar sua atual companhia.
O homem vende seu passado pela metade do preço para comprar um futuro a dois. E toma essa atitude pela ânsia da exclusividade. O homem sofre horrores com seu romantismo, apesar de soar para a turma feminina como possessividade e ciúme.
Ele quer ser o melhor na cama, o melhor confidente, o melhor baladeiro, o melhor amigo da vida de sua namorada ou esposa.
Somos um Guia Quatro Rodas atualizando edições e buscando apagar os anos anteriores.
Mulher se emociona em segredo, o homem apenas se emociona depois dos boletins informativos de sua companhia.
Talvez seja carência, talvez seja insegurança, a questão é que somos assim.
Talvez seja vaidade, só que é uma vaidade que nos emociona, que nos arrebata, que fortalece o nosso amor.
É a nossa vaidade indispensável, logo nós, que somos distraídos para a aparência.
O homem espera declarações que assegurem seu lugar na história dos relacionamentos.
Ele mudará a cor de seus olhos quando sua mulher avisar que “foi o melhor sexo que ela fez”.
Ele mudará a cor de seu silêncio quando sua mulher avisar que “nunca esteve tão feliz”.
Ele mudará a cor de suas palavras quando sua mulher avisar que “jamais alguém a compreendeu desse jeito”.
Ele mudará a cor de sua coragem quando sua mulher avisar que “nunca existiu tamanha cumplicidade”.
E mudará sua vida se – por acaso – ela afirmar que o enxerga como pai de seus filhos.
É a frase que torna o homem inesquecível, já que nem sempre consegue ser eterno.
Publicado no jornal Zero Hora
Porto Alegre (RS), Edição N° 17605