INSTAGRAM NÃO É CLASSIFICADO ERÓTICO
É desagradável não respeitar a natureza de cada espaço na web. É como aparecer de bermuda, camiseta e chinelo numa festa social ou surgir na piscina de terno e gravata.O que há de homens sem noção caçando em Instagram ou Facebook de desconhecidas. Eles confundem as redes sociais com um Tinder e deixam cantadas nos comentários e emojis escandalosos de devoção, mesmo não conhecendo as pessoas do perfil. Gostam da aparência e se arrogam o direito de flertar à vontade, mandando diretas e se oferecendo para sair.
Acreditam que toda a tentativa é livre, mas não é. Toda tentativa, quando deslocada de um contexto, é inoportuna e constrangedora.
Ainda que as mulheres não tenham um relacionamento, jamais merecem ser tratadas como um açougue e receber abordagem de pedreiro (coitado do pedreiro!), como “gostosa”, “linda”, “me dá uma chance”.
Decência é educação fora de casa. Não se deve expor alguém, inconsequentemente, a segundas intenções e interpretações equivocadas e infelizes diante dos outros.
Existe a perversa sobreposição da esfera privada na pública. E quem faz isso não demonstra coragem de puxar assunto em particular, no inbox, porque imagina a resposta desaforada que possa receber.
Se não sabe quem é, o que pensa e o que deseja, use de bons modos e seja, no máximo, simpático. Não curta todas as fotos do último ano como se fosse um serial killer ou não demonstre afeição que não existe.
Instagram não é classificado erótico, Facebook não é agência de namoro.
A navegação tem as suas regras e bússola. É preciso cuidado para não ser invasivo. Se você demonstra uma intimidade que não conquistou, é grosseria e gratuidade. A virtualidade é uma manifestação real e depende de disciplinada etiqueta. Qualquer atitude ao contrário é assédio.
Publicado em O Globo em 18/7/2018