Blog do Carpinejar

LUGAR DE GENTE SÉRIA. E PONTO.

Fotos de Tadeu Vilani


Não pergunte muito. Não vista roupas coloridas e extravagantes. Não coloque o som alto no carro. Não tente pedir informações na rua.

Os pedestres vão virar o rosto e fugir. Quem é da cidade é da cidade, e ponto final. Os que chegam são suspeitos.

– Identifico os rostos estrangeiros na hora – avisa Ricardo Luís Schuh, comandante da Brigada Militar.

Sério é um município acanhado, um esconderijo da BR-386. São 38 quilômetros de chão batido após Forquetinha. Estrada minúscula, serpeada, vertiginosa.

– Nosso esporte é remar poeira – diz Valmor Antoniolli, 47 anos. –Não tem camping, não tem rio, não tem fábricas. Ficamos esquecidos aqui por Deus e pelo Diabo.

Sinais de celulares vacilam. Não há letreiros de hotéis e pousadas. A gasolina custa R$ 2,90 o litro. Nos bares, ainda persiste o caderno de fiado, com as compras acumuladas para acerto no final do mês. Homens andam com lenço no bolso da calça para limpar o suor. Mulheres penteiam o cabelo nas janelas. Ônibus de linha não tem pressa para sair, e o motorista conhece certinho o endereço de seus passageiros, e suporta atrasos sem reclamar. Não é o morador que precisa esperar na parada, é o motorista que espera o morador. Taxistas desapareceram. Os salões de beleza acontecem nos fundos das casas. Lojas são minimercados. O cemitério toma a quadra mais cobiçada do Centro – ironicamente, os mortos desfrutam da melhor paisagem daquela porção árida do Vale do Taquari.

Ninguém fica à vontade para rir na cidade de Sério. Não por ser um contrasenso, mas já prevendo a piada do visitante com o nome.

– Seriense não nasce chorando, nasce fazendo beiço para o destino – brinca Marisa Candido, comentando a falta de asfalto no acesso principal.

O estranho batismo reforçou uma fobia de turistas. As pessoas são desconfiadas, com um pé atrás.

– Não é antipatia, é timidez – esclarece Liane Farfatto, 38 anos, técnica em Enfermagem.


A tranquilidade torna-se a recompensa pelo isolamento. Ao meio-dia, Valmor nem fecha a loja aberta para almoçar com a família atrás do balcão. No costado do bar, reúne-se com sua mulher, Susana, 42 anos, seus filhos Wiliam, 15 anos, e Yuri, sete anos, e os sogros Victorino Danieli, 74, e Lídia Danieli, 73. Todo dia é a mesma coisa. William é o último a comer, Yuri é o primeiro a sair da mesa para esticar os braços diante do ventilador e monopolizar o vento, e Valmor provoca a sogra para um arranca-rabo.

– Só a convido para lavar a louça – cutuca.

– Ele me ama com culpa – responde Lídia.

A refeição costuma não ser interrompida por nenhum freguês.

– Aqui o cliente, além de ter sempre razão, tem imaginação – diz Susana.

As aventuras são por dentro dos pensamentos. O sonho das jovens é namorar sério e entrar de véu e grinalda na Igreja São José.

– Vale viver para esperar – diz Tatiana da Silva, 25 anos, que trabalha como babá em Lajeado, e noivou com Cedemir há pouco tempo.

Não descarta a possibilidade de passar a lua-de-mel na própria cidade.

– Quer maior privacidade? – desafia.









Publicado no jornal Zero Hora
Série semanal BELEZA INTERIOR
(Em todos sábados de 2011, apresentarei meu olhar diferenciado sobre as cidades, as pessoas e os costumes do RS)
ps. 34, 05/02/2011
Porto Alegre, Edição N° 16602
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