ME CHAMEM DE VOLTA QUANDO A CIDADE ESTIVER PRONTA
Arte de Juan Gris
Já é complicado viver numa casa em reforma, imagina viver numa cidade em reforma?
Se em nossa casa em reforma, a gente já se irrita, não aguentamos a falta de tranquilidade, as interrupções, o atraso, os pedreiros de um lado para outro, o orçamento quebrado; se em nossa casa em reforma, já ficamos loucos, possessos, nervosos, torna-se um pesadelo o descumprimento do planejamento inicial, queremos gritar, sair correndo, acabar o casamento, não conversar mais sobre material de construção; imagina, então, viver numa cidade em inteira reforma como é Porto Alegre?
Qualquer rua vira engarrafamento porque o corredor de ônibus está sendo remodelado; qualquer avenida vira tranqueira porque há uma obra a 500 metros; qualquer horário é sinônimo de atraso.
Parece que nada vai terminar. Nenhum viaduto, nenhuma passarela, nenhuma construção. Um desespero em câmera lenta.
É atravessar o natal e o ano novo sem nenhuma vontade de comemorar. É receber o carnê do IPTU e quase comer o papel com ketchup e mostarda.
Estamos muito próximos, todos nós, porto-alegrenses, de um colapso nervoso.
Há uma anedota envolvendo o poeta Mario Quintana que ilustra o nosso terror. Quando visitou São Paulo, o escritor ficou assustado com o excesso de obras. Daí disse:
- Me chamem de volta quando a cidade estiver pronta.
Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (17/12) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina: