Blog do Carpinejar

NAMOROS VIBRANTES

Arte de Eduardo Nasi
 
Eu nunca dei um vibrador a uma mulher.

Estou em desvantagem em relação aos meus melhores amigos. Eles costumam oferecer o mimo no início do namoro.

Para mostrar liberalidade e discernimento. Para provar que são maduros e esclarecidos. Ou por sacanagem mesmo.

Quando comentei que jamais ofereci um vibrador de presente, eles me censuraram com um “Oh” e “Nossa!”.

Alegaram que estou defasado, que o vibrador não concorre com o pau, é uma mão hábil e ágil.

— Ele é o pianista, nós somos os cantores —, comparou Renato Godá.

Enrubesci, me vi um reacionário com duas pedras de gelo. Voltei a falar de futebol para me sentir viril de novo.

Aquilo me gerou pesadelos depois. Sou um tosco, devo ser um covarde, um limitado sexual.

Criei teorias para me absolver: “Não é que tenha medo da concorrência, é que eu pensava em não invadir a solidão feminina” ou “O vibrador é presente de namorado preguiçoso”.

Teses bonitas que escondiam meu ciúme de Eduardo, que voltou de Berlim com um consolo de última geração, dádiva para sua namorada.  Ele venceu as aparências para trazer o bichinho evoluído, que não precisa de pilhas e funciona em contato com corpo.

— É superultramoderno! — anunciou.

Só para explicar o mecanismo do negócio, ele demorou vinte minutos, que é uma baita preliminar. Ele disse que o aparelho é movido por ímãs, apto ao bolso, discreto e potente.

De qualquer forma, não entendi a mecânica: Como que carrega?

É assustador um vibrador que é necessário ler manual de instruções. Ainda mais em alemão.

Além do desprendimento de adquirir a peça, ele enfrentou a alfândega, e foi convidado a abrir a mala e desembrulhar o apetrecho.

Os funcionários perguntaram como é que ligava. Ele gaguejou:

— Tem que colocar na pele.

— Na pele, tá de brincadeira?

Não estava. O aparelhinho zuniu no braço peludo do policial, no meio da revista do Aeroporto de Berlim-Brandemburgo, para a diversão de milhares de passageiros.

Todo macho resolvido tem sempre a fama de gay.
 




Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
 

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