NÃO ESTOU ACUSANDO NINGUÉM
Arte de Eduardo Nasi
A culpa é a mãe de todo o homem.
Injusto afirmar que ele pensa uma coisa e faz outra. Ele pensa uma coisa, faz outra e sente outra ainda.
Ele costuma fazer o contrário do que fala e do que sente. Sua ação é diferente de sua conversa que é diferente de seu sentimento.
Quando a relação está por um fio, desgastada, arrebentada, toma o caminho inverso e se compromete ainda mais. Realiza planos extravagantes, assume dívidas, banca certezas. Quando está desesperançado, quando não enxerga saída, é o período em que alimenta as maiores expectativas e sonhos com sua companhia.
A facilidade esconde dificuldades. Ao ver fotos dele rindo no Facebook, radiante no instagram, jurando lealdade eterna, não conclua que alcançou o plano superior do contentamento amoroso. Talvez seja o oposto. O transbordamento masculino é disfarce.
Quem diz que ele não trai?
Homem infiel é contrafóbico. É quando promete casamento, filhos, joias, roteiros para sua namorada.
Homem infiel é generoso. É quando relaxa, busca conciliação, escuta contrapontos, exerce a humildade.
Homem perfeito só no inferno.
Prestes a se divorciar, ele se lança na contracorrente e se mostra submisso ao relacionamento.
No momento em que coloca os dois pés fora de casa, põe as duas mãos dentro da blusa da esposa. Aproveita a mala da despedida para viajar romanticamente.
Seu abraço apertado não é intencional, e sim assustado, para fugir da queda do abismo.
Exatamente o avesso do comportamento feminino. Quando a mulher trai, seu olhar fica longe, abstrato, distraído. Ela se ausenta por completo, vai se afastando pouco a pouco, criando territórios neutros pela residência.
O homem, por sua vez, é possuído de presença e magnetismo. Inventa arrebatamentos que não condizem com a situação indigente das brigas e discussões diárias.
Se a mulher não aguenta mais sua rotina, demonstra frieza no bom-dia. O pão não terá manteiga, o café será servido frio, os farelos não serão reunidos pela concha das mãos.
Já o homem é andarilho da dissimulação. Não entrega seu descontentamento nem no sexo. Procura se proteger e despistar seus desejos até tomar uma decisão. Próximo da ruptura e consciente do fim, abusará de surpresas e da imaginação sentimental.
Nenhuma amante será capaz de compreender seu comportamento, o que levará a crer que está sempre mentindo. Ele é incoerente, não mentiroso.
O perdão é o pai de todo o homem.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
16/7/2014