NÃO SE ENVOLVA COM AMIGO
Arte de Eduardo Nasi
Minha filha, não se envolva com amigo.
Mais difícil do que iniciar o romance é terminá-lo.
Não há como encerrar sem trauma, sem ressentimento, sem a crueldade da palavra exata.
Ficará com medo de perder a amizade, e perderá. Não terá coragem de ser sincera como antes, e queimará o céu da boca.
O desejo é uma embriaguez violentada pela ressaca. O desejo é uma miragem alcóolica do corpo. Acordamos da bebedeira das palavras ainda mais carentes.
Não se envolva com amigo. O antigo confidente terminará sendo seu segredo (e agora, para quem contar?).
Acabará o amor, mas não a amizade.
Ele não dará nenhum motivo para o fim da relação. Não vai traí-la. Não vai provocar ciúme. Não vai cometer indelicadezas e grosserias.
O homem certo é o errado. O homem ideal é imprestável.
Ele não ajudará na despedida, fugirá das discussões de relacionamento. Conhece o suficiente para agradá-la todo momento com cafunés e presentes.
O amigo é insuportavelmente bom. Terrivelmente bom. Sua mãe recomenda. Seu pai recomenda. Seus amigos recomendam. A unanimidade não nos permite escolher.
Não se envolva com amigo.
Se enfrentou indecisão para beijá-lo no início, o verdadeiro dilema é parar de beijá-lo. Como chegar e falar:
— A brincadeira acabou, vamos retornar ao que era antes?
Não há como regressar, a amizade não é líquida como o amor. Não é gelo que volta a ser água que volta a ser chuva que volta a ser rio.
Sempre o amigo se apaixona por você, e você não se apaixona por ele. É a lei natural da desigualdade.
Amigo não gera nem raiva, mas pena. Não exala a sensualidade da teimosia, o suor maravilhoso da discordância.
Envolver-se com amigo é a maior solidão: quando a solidão vira desterro.
Bancará a ruptura sozinha. Ele não facilitará o testamento. Será a ogra, a monstra, a interesseira.
Ele dirá:
— Mas nada aconteceu, por quê? O que eu fiz?
Nada aconteceu, ele não fez nada, o fim é exatamente a monotonia do bem.
Um amigo, minha filha, tem menos chances de surpreender. E desconcertar.
Tem menos possibilidade de incomodar, de ser inesquecível e desafiar a compreensão.
O amigo é a segurança, o conforto, o pique, a trégua do pega-pega.
O amigo é a previsibilidade da justiça.
E o amor, minha filha, é injusto.
Mais difícil do que iniciar o romance é terminá-lo.
Não há como encerrar sem trauma, sem ressentimento, sem a crueldade da palavra exata.
Ficará com medo de perder a amizade, e perderá. Não terá coragem de ser sincera como antes, e queimará o céu da boca.
O desejo é uma embriaguez violentada pela ressaca. O desejo é uma miragem alcóolica do corpo. Acordamos da bebedeira das palavras ainda mais carentes.
Não se envolva com amigo. O antigo confidente terminará sendo seu segredo (e agora, para quem contar?).
Acabará o amor, mas não a amizade.
Ele não dará nenhum motivo para o fim da relação. Não vai traí-la. Não vai provocar ciúme. Não vai cometer indelicadezas e grosserias.
O homem certo é o errado. O homem ideal é imprestável.
Ele não ajudará na despedida, fugirá das discussões de relacionamento. Conhece o suficiente para agradá-la todo momento com cafunés e presentes.
O amigo é insuportavelmente bom. Terrivelmente bom. Sua mãe recomenda. Seu pai recomenda. Seus amigos recomendam. A unanimidade não nos permite escolher.
Não se envolva com amigo.
Se enfrentou indecisão para beijá-lo no início, o verdadeiro dilema é parar de beijá-lo. Como chegar e falar:
— A brincadeira acabou, vamos retornar ao que era antes?
Não há como regressar, a amizade não é líquida como o amor. Não é gelo que volta a ser água que volta a ser chuva que volta a ser rio.
Sempre o amigo se apaixona por você, e você não se apaixona por ele. É a lei natural da desigualdade.
Amigo não gera nem raiva, mas pena. Não exala a sensualidade da teimosia, o suor maravilhoso da discordância.
Envolver-se com amigo é a maior solidão: quando a solidão vira desterro.
Bancará a ruptura sozinha. Ele não facilitará o testamento. Será a ogra, a monstra, a interesseira.
Ele dirá:
— Mas nada aconteceu, por quê? O que eu fiz?
Nada aconteceu, ele não fez nada, o fim é exatamente a monotonia do bem.
Um amigo, minha filha, tem menos chances de surpreender. E desconcertar.
Tem menos possibilidade de incomodar, de ser inesquecível e desafiar a compreensão.
O amigo é a segurança, o conforto, o pique, a trégua do pega-pega.
O amigo é a previsibilidade da justiça.
E o amor, minha filha, é injusto.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira