Blog do Carpinejar

O HOMEM É MAIS VAIDOSO DO QUE A MULHER

Arte de Georges Rouault

A mulher tem a fama de ser vaidosa. Mas o homem é bem mais. Seja um brucutu, seja um modelo, seja um estivador, seja um DJ.

A vaidade masculina não decorre da preocupação estética, pois se vê tão superior, que dispensa enfeites. Sua fragilidade parte do conteúdo, de sua essência.

Enquanto a mulher é segura espiritualmente e humilde na aparência (procurando infinitamente acessórios e roupas para se melhorar), o homem é indeciso na esfera emocional e soberbo em sua imagem externa.

Ele sempre foi um metrossexual da alma. Sua ostentação vem da carência – precisa constantemente ser legitimado, festejado pela sua companhia, senão se apaga.

Uma prova desse contraste é que é muito mais fácil puxar o saco do homem do que da mulher, é muito mais fácil seduzir o homem do que uma mulher, é muito mais fácil mentir ao homem do que a uma mulher, é muito mais fácil enganar sexualmente um homem do que uma mulher.

A mulher aguenta as críticas, o homem entra em depressão. A mulher rebate ofensas, o homem se flagela com um único desaforo. A mulher não responde a conversinha fiada, o homem exige réplica até de fofoca. A mulher brinca com a desconfiança, o homem é sério e dramático quando o assunto é sua reputação.

Apesar da fachada inviolável, ele é dependente de um agrado. Não dispensa cafuné na linguagem, um afago em seu ego. Adquire segurança de fora para dentro, a partir da repercussão de suas ações. Diferente da mulher, que carrega uma maior confiança e autonomia e contesta a opinião dos outros se acredita que está certa.

O homem não sobrevive diante da estiagem do elogio, por isso não fica sozinho e emenda relacionamentos. Pede alguém ao lado que eleve sua estima, que diga que ele é o cara, o escolhido, o insubstituível, o melhor do mundo. Sua pressa infantil em ser reconhecido prevalece sobre qualquer descoberta individual.

A vulnerabilidade do macho é megalomaníaca. Ele anseia mesmo por uma chuva de confetes. Bajulação se for o caso. Não importa se a declaração é exagerada ou não, fundamentada ou artificial.

Se o homem não se sente admirado dentro do romance, ele se desapaixona. Extingue-se. Pula fora.

É um Narciso no corpo de Hércules. Usa a opinião feminina como espelho, onde costuma se afogar.





Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 21/1/2014
Porto Alegre (RS), Edição N° 
17680

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