O MEDO DO TÉCNICO DIANTE DO PÊNALTI
Decisão de pênaltis é loteria. O melhor time pode perder, o pior pode ganhar. Apaga-se o histórico dos 120 minutos. É como se fosse um outro dia. Não há mal e bem, certo e errado, é um novo jogo, uma partida essencialmente mental, em que a precisão acaba sendo destruída pela emoção.Marcou-me no confronto de penalidades entre Inglaterra e Colômbia a postura do técnico argentino José Néstor Pékerman. O maduro homem de 68 anos, de fartos cabelos grisalhos, responsável pela seleção colombiana, figura tarimbada do futebol latino-americano, transformou-se de repente num menino assustado. Da sapiência exemplar dos esquemas táticos, regrediu aos seus medos mais primitivos. Simplesmente fechou os olhos para não ver as cobranças.
Não se conteve diante das câmeras: com a cabeça baixa, vendou a si mesmo. Rezava dentro do escuro de seus pensamentos.
Não seria capaz de suportar o suspense de uma desclassificação por milímetros. Não seria capaz de testemunhar a esperança indo e voltando tresloucadamente. Não seria capaz de aguentar o rodízio sádico entre vitória e derrota, desespero e alívio.
Avaliava cada avanço ou recuo pela comemoração externa. Mesmo com o corpo preso ao campo, abstraía-se, negava a sua presença, ouvia somente o rádio da torcida.
Por mais que já tivesse experimentado várias finais iguais e trepidantes, era uma criança espiando, pelas frestas do dedos, o filme de terror de sua vida.
Crônica publicada em 03/7/2018