OBRIGADO, SOGRA
Infidelidade, falso testemunho, difamação, seja lá o que você aprontou, conte com o auxílio da sogra.
A ala masculina reclama dela, mas não deveria; é a fiadora dos namoros, sustenta casamentos, firma afetos, soluciona dilemas com seu exemplo vivo.
Em especial, quando mora longe. Quando reside no interior. Nos grotões. Nos baldios do mundo.
Não é uma ironia. Não é que a distância ajuda.
A mãe de sua namorada é a única que pode salvá-lo numa separação. É a Suprema Corte do Amor.
Não vai defendê-lo, esqueça. Não vai aconselhá-la a retomar os laços, esqueça também. Toda mãe deseja que sua filha acabe como uma tia solteirona. Essa história de arrumar um bom partido, um genro educado é canção de ninar. Mãe anseia, por dentro, que sua filha permaneça sozinha para manter a influência. Resgata o romance de modo involuntário. Realmente sem querer, mas funciona certo como unguento.
É até recomendável que sua mulher procure a sogra em vez da amiga. Se ela dormir na residência da segunda, as probabilidades de reatar são mínimas. A amizade não tem dó, a confidente sentenciará que você não a merece, é isso que todas dizem sobre os machos ao final da catarse.
Deixe-a seguir ao colo materno para curar as mágoas e as dores. É melhor do que um spa, mais seguro do que um convento, mais isolado do que uma masmorra. A visita gera o efeito contrário.
Minha colega de italiano, Francieli, discutiu feio com Roberto, estão casados há cinco anos. Homem adora lugar-comum e repetir clichês no relacionamento, chegou de madrugada do que era para ser um jogo de futebol e não passou no bafômetro do beijo. Respondeu, na maior cara-de-pau, que não bebeu.
Francieli pensou: se ele é incapaz de inventar uma mentira não merece uma segunda chance. Arrumou a mala e partiu para sua mãe, em Caxias do Sul. Dois dias de silêncio e greve com o marido, não atendendo telefone, não respondendo torpedo. A situação parecia séria, irreversível, carregada de orgulho e ressentimento.
Na segunda-feira, de repente, Francieli retorna para casa extremamente feliz. Outra cara, outra simpatia, disponível para ouvir a versão do que aconteceu naquela noite.
Perguntei o motivo da mudança.
— Eu não aguentei mais ficar na mãe. Não tive um minuto de sossego. Vi o quanto minha adolescência foi infernal. Ou me cobrava que deveria aprender a guardar as coisas ou que não prestava atenção ou que minha roupa estava com pelo de gato.
Francieli visita a mãe para falar mal de Roberto e volta para falar mal da mãe.
Uns dias com ela é sempre garantia de reconciliação.
Crônica publicada no site Vida Breve