ONDE COLOCAR AS UNHAS?
Foto: Reprodução Donna
Nunca vi minha mulher cortando as unhas em casa. Se ela faz, é de modo discreto e imperceptível. Seu costume é arrumar no salão.
O meu problema é que deixo as unhas crescerem até furar as meias. E depois não é mais um corte, e sim um abate.
Deveríamos receber um saquinho plástico, tipo o existente em avião para desconforto, com uma cordinha e a recomendação desenhada dos possíveis acidentes.
E não há lugar para cortar em paz, sem ser chamado à atenção. Como são lâminas já, cascos já, é enfiar a tesourinha e a unha salta para nunca mais localizá-la. Deve ir para debaixo de algum móvel, assim como copo quando se despedaça.
Após dois meses, são unhas voadoras, unhas morcegos. Criam asas.
Daí me lembro por que demoro para apará-las, é sempre o mesmo impasse. Retardo ao máximo e apenas tomo uma atitude quando a minha mulher não aguenta mais e reclama dos arranhões com a carícia dos meus pés na cama.
Não raciocino que o adiamento acentua a força do arremesso. Quanto o maior tempo sem ajeitar, maior a compressão do OVNI.
Não tem muito o que fazer: o cortador é uma alavanca para longe. Não há como reunir a sujeira, o montinho, e botar no lixo. Aliás, lixo é o lugar. Uma vez coloquei na privada e uma amostra grátis restou na tampa para nojo da minha adorável companhia.
Onde cortar é um drama masculino. Tentei podar no quarto e foi uma calamidade. Motivo de divórcio a esposa achar um resquício dos meus pés nos lençóis. Tentei na sala e temo que um dia as ossadas sejam localizadas no tapete felpudo e termine condenado pelo crime de porquice. Na cozinha, nem pensar. No banheiro, com os azulejos brancos, é uma odisseia identificar as foragidas. Mais fácil encontrar uma tarraxa de um brinco do que uma unha. Mais fácil encontrar uma tarraxa transparente de um brinco do que uma unha.
Atinjo a curiosa conclusão de que as unhas mijam de pé. Nunca acertam o vaso. É outra disfunção do nosso universo viril.
Publicado em Donna em 07/08/17