PADRINHO DO DIVÓRCIO
Arte de Eduardo Nasi
O terapeuta guarda sigilo, e apenas ele pelo jeito.
Virou mania nas discussões de relacionamento empregar o terapeuta como argumento. Ele é sequestrado, citado, profanado dia a dia.
Ao brigar com sua mulher, estará debatendo com ela mais seu terapeuta. São sempre dois contra um. É um ménage psicológico.
Qualquer problema do casal e já se joga a opinião do terapeuta. É um recorte e cole infinito de máximas do consultório ao longo dos desentendimentos de casa.
Dos naipes da disputa, ele surge como um Curinga do convencimento, um fiador das decisões. Quando se perde o domínio, é chamado espiritualmente para reverter o quadro e socorrer sua crença.
Ele é o novo Messias da consciência, só que seus consultados não respeitam o segundo mandamento e tomam seu santo nome em vão.
“Não é o que pensa o meu terapeuta!” é uma das ameaças mais freqüentes nas DRs.
Ou seja, pode discordar de sua esposa, mas não do terapeuta dela. É o voto de Minerva no permanente desempate que é a vida a dois.
Em briga de casal, não se mete a colher, mas se mete a todo instante o psicanalista. O que é um último recurso para trazer credibilidade para a ofensa.
— Ele diz que eu tenho razão.
— Ele concorda comigo.
Mais honesto fazer terapia de casal, pois você já vem sendo atendido indiretamente, sem nenhuma possibilidade de contraponto e defesa do seu contexto.
— O terapeuta não entende por que não me separo. Eu é que insisto.
Por afirmações como esta, que é criada rejeição à toa das consultas.
Você pretende se salvar denunciando o terapeuta. Depois não ache estranho quando sua companhia ficar com raiva do divã e se opor à análise. Você acaba de entregar ao marido que ele está contra seu casamento.
Não cuide do que fala ao terapeuta, e sim cuide do que fala sobre o terapeuta.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
23/7/2014