PARA SEMPRE NAMORADO
Não se pode perder de vista o namorado dentro do papel de marido. Ele é a base do relacionamento feliz.O namorado é o menino do amor, o moleque do amor, o palhaço do amor. Ele deve ficar de tocaia na personalidade séria e aparecer de vez em quando para a sua mulher não ter certeza absoluta de quem é você.
Conhecer demais o outro é intimidade. Desconhecer um pouco é paixão.
Sem um quê de loucura, o amor não sobrevive. Temos que manter uma dose de inconsequência para sacudir a mesmice e desestressar os ritos da convivência e das contas em comum. Dê férias ao chato do matrimônio, que cobra, reclama e fiscaliza para o funcionamento da família.
Os casais avançam por explosões de tempo em tempo. Promova, portanto, um surto de declarações que sustentará a memória durante as dificuldades. É não esquecer o motivo primeiro de estarem juntos e dar novos motivos para continuarem enlaçados.
Lembra o que era capaz de fazer quando começou o namoro? Aquele desatino de gritar o nome dela na madrugada, quando ela, envergonhada, pedia silêncio para não acordar os vizinhos. Aquela fissura de inventar uma viagem de manhã só para se curtirem longe de todos. Aquela necessidade de chamar atenção: de pular na piscina de roupa, de entoar uma homenagem no karaokê, de ser o último a sair de uma festa e dançar até ficar descalço. Resgate a irreverência da época.
Não é propor tudo o que ela quer, mas mostrar o quanto ainda é surpreendente.
São gestos simples para indicar o enamoramento da pele.
Cochiche safadezas no ouvido dela, tire o seu par para dançar em pleno silêncio, dê um beijo de adolescente tentando bater o recorde de minutos, promova um strip que no mínimo será engraçado, crie uma disputa de tequila e limão em casa para ver quem cai primeiro, monte um pen drive com as trilhas da adolescência, organize um mural com as fotos da relação e renove os porta-retratos, compre sacolinhas para acondicionar os sapatos dela, preencha o teto com balões de gás, prepare um café da manhã e a desperte com bolinhas de sabão no rosto, esconda-se no guarda-roupa com presentes e provoque um susto de alegria. Banque o massagista, o motorista de plantão, o cozinheiro. Mude de profissão por um instante pela fantasia de agradar.
Depois, pode voltar à rotina, a sua esposa não será a mesma, estará sempre esperando, atenta, com olhos arregalados, a ressurreição do apaixonado.
Publicado em Jornal Zero Hora em 12/6/2018