PEQUENO SOLDADO
Arte de Pablo Picasso
Guardamos aquela imagem do parto: a mãe abraçando o filho logo quando ele solta seu primeiro grito, o pai se emocionando junto, o rio feliz de lágrimas, os sapatinhos de crochê na porta.
Mas nem sempre é assim: quando o bebê é prematuro não vai para casa com os pais. Fica numa incubadora no hospital.
Foi o que aconteceu com o casal de amigos Pedro e Daniela.
Nasceu Lucas, mas a mãe não podia estrear suas canções de ninar, não podia confortar as cólicas ou definir a cor dos olhos, não podia sentir o cheiro da cabeça, não podia amamentar, não podia tocar em sua criança.
O filho nasceu, mas não estava com eles. Não tinham a certeza. Não tinham a tranquilidade do berço e da residência, não tinham como usar o enxoval e comemorar, não tinham como receber os amigos e os avôs.
Era uma angústia enorme. O filho veio, porém frágil demais para se manter longe do respirador.
Não há maior provação. Passaram meses da gravidez esperando cuidar do bebê. Quando ele surge, morrem de saudade de novo.
A gravidez demorou mais de um ano, na verdade.
Poucos corações aguentam. Como se estivessem adotando o filho do próprio sangue. Como se o amor fosse feito em prestações.
Hoje Lucas ganhou os braços dos pais e finalmente conhecerá seu novo lar. Depois de três meses entre a vida e a morte.
O que posso garantir é que, após esta experiência, os pais serão fortes e unidos como nunca, mais cúmplices, mais atentos.
Sorte do Lucas, esse pequeno soldado da esperança.
Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (10/3), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina: