QUANDO A MULHER SE CALA E O HOMEM FALA POR ELA
Quando a mulher fala pelo casal, a relação vai bem. Quando o homem fala pelo casal, a relação vai mal.
Repare, é assustador: o silêncio da mulher é insatisfação; o do homem, contentamento. O silêncio da mulher é repressão; o do homem, aprovação. O silêncio da mulher é angústia; o do homem, recompensa.
Quando os dois estão entre amigos, se o homem não fala e escuta atentamente, está concordando. Se o homem é que fala e a mulher mergulha na mudez, é que está prestes a explodir de raiva.
Homem passivo e mulher dominante são sinais de bem-estar. Homem dominante e mulher passiva são agouros de briga.
A mulher é a porta-voz da felicidade da vida a dois – pois sempre arranca na frente para antecipar as novidades e projetos. Não se furta a dizer a sua versão dos acontecimentos. A loquacidade representa comprometimento e engajamento no relacionamento: discute, debate, intervém, não deixa por menos. Já o homem matraqueando é a versão da tragédia, busca disfarçar tudo o que vem acontecendo de errado e fazer com que todos não percebam a indisposição feminina.
Homem alegre é plateia. Aplaude, ri, meneia a cabeça enquanto testemunha a sua esposa descrever as principais histórias e causos do seu cotidiano. Não sente necessidade de se contrapor à narração, até se vangloria das legendas. Quando entra sozinho no palco, é que fará um monólogo fingido: no fundo, distrai os outros de sua diva contrariada.
Mulher jamais é espectadora, somente se cala em nome da fúria, ciúme ou ressentimento. Não consegue nem mais reclamar. Prende a língua, trinca os dentes, já que se vê numa situação-limite: engatilhada a disparar sarcasmo e ironia a troco de nada, capaz de devolver o mero cumprimento com uma pergunta. Mostra-se educada a ponto de ser lacônica, não quer mentir e se controla.
Não desejava participar daquele momento hipócrita: pretendia resolver tudo antes em casa para depois sair (não é como o homem, que sai para resolver o que não foi compreendido em casa). Sua leveza depende da segurança emocional.
Para ter vontade de se expressar é que se encontra possessa, engasgada, de olhar baixo. Desistiu da esperança do humor. Admite ser dublada porque a sua cabeça e – principalmente – o coração se escondem longe dali.
Publicado no jornal Zero Hora
Porto Alegre (RS), Edição N°