RONCO DO CHIMARRÃO
Arte de Moholy-Nagy
O homem roncando é um incompreendido. Um injustiçado. Um perseguido pela vida amorosa. Nunca é valorizado pela mulher, que sempre o enxerga como um animal perigoso, condicionado a passear de focinheira e coleira.
E não é verdade.
Um homem roncando dá a sensação de casa cheia. Com apenas um homem roncando, todos os quartos ficam ocupados.
Um homem roncando é a única forma de quebrar a lei do silêncio do prédio e não receber multa.
Um homem roncando é aula de música, é Modernismo, é Stravinski, é uma orquestra formada por oito trompas e trinta e oito instrumentos de sopro.
Um homem roncando presta homenagem à invenção dos eletrodomésticos: o aspirador, o liquidificador, a batedeira, o processador multiuso.
Um homem roncando é um retorno à vida rural: é ter um relâmpago de estimação, é ter relinchos perto dos ouvidos.
Um homem roncando é sinal de saúde. É a certeza de que o sujeito está vivo.
Um homem roncando traz segurança ao lar. É ter um cão dentro do quarto. Ninguém assaltará sua casa. Não necessita instalar alarme ou pagar serviço de vigilância.
Um homem roncando serve como crucifixo. Afasta vampiros, bruxaria, mau olhado, demônios e fantasmas.
Um homem roncando impulsiona o crescimento feminino: a mulher lê mais, assiste mais filmes, ouve mais música, não perde tempo com sono.
Um homem roncando é a prova de que ele confia em você. Ele dorme pesado, sem nenhuma desconfiança.
Um homem roncando mostra a satisfação sexual do macho. O ronco é uma mistura de gemido com risada.
Homem é como chimarrão: se não roncar, é falta de respeito.
Ouça meu comentário na manhã de sexta-feira (28/12) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Daniel Scola e Jocimar Farina: