SCLIAR QUE ME CUIDE
CARTAS DO EDITOR
Por Ricardo Stefanelli
Diretor de Redação
Sant’Ana e Carpinejar, que sucede a Scliar na página 2. Foto de Diego Vara
Foram momentos de intenso prazer – e aprendizagem – os de mediar na Quinta-Feira Santa os diálogos improvisados entre o mais longevo colunista de Zero Hora, Paulo Sant’Ana, e o mais novo, que estreia sua coluna no próximo dia 3, Fabrício Carpinejar. Os dois se conheciam – e se admiravam – à distância, sem nunca terem se encontrado. Abraçaram-se e se beijaram já no bar da Redação, quando a química entre as duas estrelas foi a senha para uma conversa de hora e meia a partir dali.
Fabrício, ainda emocionado pelo convite oficial para substituir nas terças-feiras o espaço que Moacyr Scliar assinou até janeiro na página 2 (na companhia de Verissimo, Martha Medeiros, David Coimbra e Cláudia Laitano), travou um dueto sem pausa com Sant’Ana. O diálogo, bem-humorado o tempo todo, intercalado por longas risadas que fizeram Sant’Ana esquecer por momentos seus achaques e interromper a propagação de sua melancolia, ganhou também intervenções de outra grife do jornal: Rosane de Oliveira, vizinha do sítio da mãe do novo colunista, Maria Carpi, uma poeta tão talentosa quanto o pai de Fabrício, hoje o único gaúcho integrante da Academia Brasileira de Letras.
Megalômano como só ele, Sant’Ana tratou de mostrar seus cartões de apresentação ao novato para checar se o interlocutor sabia com quem estava falando: 40 anos de RBS, mais de 16 mil colunas diárias, recordes constantes de audiência e de correspondência dos leitores. Fabrício, que a tudo ria e acrescentava uma frase como se escrevesse um texto oral, exibia reverência ao colega mais antigo, mas dava pinceladas de brilhantismo que sacudiram a alma do colunista com mania de grandeza.
– Vejo que somos brilhantes – disse Sant’Ana a certa altura, já íntimo do novo amigo e citando Churchill de quando em quando, revelando conhecimentos sobre o estadista de quem, no momento, devora a biografia.
Falaram sobre imoderados, sobre gênios e idiotas, sobre otimistas e pessimistas, sempre concordando, mesmo quando tinham visões opostas a respeito. Lapidavam peças orais para harmonizar-se com a fala do outro, tal como trovadores em amigável duelo. Ou como um jogo infantil de encaixes.
– O otimista é geralmente um idiota – bradou Fabrício em tom de poema, para gáudio de Sant’Ana, um pessimista incorrigível.
– É claro! Só o pessimista pode ser um ser inteligente – declamava Sant’Ana, ensaiando ali um provável dueto que, em breve, pode ser travado no novo canal de vídeos do clicRBS. Aguardem.
Publicado no jornal Zero Hora
Novidades, viagens e presentes
P. 2, 24/04/2011
Porto Alegre (RS), Edição N° 16680