SEGREDO CANINO
Arte de Keith Haring
O cachorro é o nosso verdadeiro teste vocacional. Nossa caixa-preta.
Pelo nome que damos ao nosso cachorro, sabemos quem somos. O que queremos. O que desejamos.
O cão entrega nossa ânsia pela fama, denuncia nossa grandiloquência enrustida.
Você não vai chamar sua cadela de Shakira se não se acha a mais gostosa do bairro.
Você não vai chamar de Tyson se não se acha o mais marombado da academia.
Podemos até disfarçar a onipotência no nome dos filhos, mas acabamos nos entregando nos animais de estimação.
Um amigo pode dizer que não é ganancioso, mas chama seu buldogue de Napoleão. É um aviso, o sujeito deve ser altamente autoritário no trabalho.
Se você diz que odeia os comunistas, mas chama seu boxer de Fidel, algo está errado.
O nome do cachorro revela nossa ambição. Escondemos nossa mais sincera pretensão na homenagem divertida.
São raros os apelidos carinhosos e neutros como Totó, Mel, Bidu, Xodó, Rex, Pipoca. Hoje os cachorros têm certidão de nascimento pomposa. Não são mais cachorros, mas Wikipédia.
Se seus cachorros são Freud e Lacan, já é um caso psiquiátrico.
Se nomeia seu pequinês de Elton John, tem um lado princesa florescendo em você.
Se batizou seu companheiro de parque de Beethoven, é um músico frustrado. Se oferece o nome de Quintana, gostaria de ser poeta.
Diga-me o nome do seu cachorro e te direi quem és.
Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (19/3) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola: