Blog do Carpinejar

SEXO É BOM E EU GOSTO

Arte de Eduardo Nasi

Sexo é treino. Não é como andar de bicicleta, que nunca desaprendemos. Não é como dirigir, que decoramos naturalmente.

Sexo é intimidade. Depende mais da transpiração do que da inspiração.

Quatro semanas sem sexo e será incomodado pela estranheza: a lentidão do gesto, a carência de aptidão, a aspereza decorrente dos maiores intervalos da fala.

O distanciamento pesa na pele. É como tirar de repente a música ambiente, e mergulhar no silêncio ensurdecedor da criação do mundo.

Haverá um toque cômico, patético, que virá da ausência de ritmo. Prenderá o cabelo dela com o cotovelo, esticará a perna além do necessário e confundirá com sessão de alongamento, baterá a cabeça na cabeceira da cama.

Sexo é sequência. É se afastar e terá que superar o desconforto, refinar o tato, reinventar o ritmo. Terá que quebrar o gelo.

Para remediar a distância, abusará do aquecimento, da insistência obsessiva, da alternância obrigatória das palavras ora ternas, ora safadas.

Tanto o homem como a mulher percebe o estremecimento; tira-se a roupa meio no seco, meio temerário, quase à meia-luz.

Não dá para puxar a cintura com ímpeto, entrar com vontade debaixo da camisa e da calça. Sacrifica-se a continuidade, a avidez lúbrica.

O sexo já pede explicações, já envolve desculpas.

Até para começar a transa é difícil, com interrogatórios desnecessários, educação exagerada, pudor de estreia.

Quando o par está há muito tempo sem sexo surge o questionamento se o outro quer transar. A pergunta é a prova do esfriamento da relação.

Os beijos pela casa tornam-se também raros, assim como aquele avanço bobo da língua na nuca e nas orelhas.

Ninguém se pegará na cozinha, na sala, fora de hora. O encontro fica restrito ao colchão e, de preferência, à noite.

Menos sexo equivale a menos romantismo. Estão diretamente ligados. Quem transa com frequência acaba mais receptivo e sensível, mais aberto e comunicativo, mais generoso e atento.

O sexo é o romance em ação. É dependência química. É vício dos laços.

Quanto mais transar, mais vontade de transar. Quanto menos transar, menos vontade de transar.

Não confio na máxima “Sexo é algo que não esquecemos”. Muita gente esquece de como se faz.

Casais que permanecem um mês de jejum enfrentarão a formalidade, a solenidade do início, a avareza do fôlego (interessados em guardar energia para o trabalho no decorrer da semana).

Sexo é mecânica amorosa. Demorar demais é encarar uma nova virgindade.

E a primeira transa – lembre! – nem sempre é boa.






Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
30/4/2014

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