TÁTICAS INFALÍVEIS
Arte de Arthur Bispo do Rosário
Quando adolescente, conservava a etiqueta transparente da loja na roupa. O ganchinho entre o lado de dentro e de fora da camisa.
O alfinete de plástico permanecia na gola. Tratava-se de uma isca.
Nenhuma mulher aguentava enxergar aquilo. Elas me paravam sucessivamente e faziam a gentileza de remover o lacre.
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O golpe tinha 100% de aproveitamento. Mais letal do que uma gola desajeitada, que podia ser estilo. Ou que uma braguilha aberta, que podia ser atentado violento ao pudor.
As vítimas nem pediam licença, avançavam com as unhas sobre meu pescoço. Eu reagia com orfandade:
– Ai, obrigado, não havia ninguém para me avisar.
O lado maternal do mulherio acelerava com a ingenuidade distraída. Elas corrigiam o lapso, puxavam conversa e, no fim, pretendiam me adotar.
A sedução cresce nos detalhes. Assim como sobram táticas masculinas, há um truque feminino que nenhum homem jamais revidou.
Quando a mulher confessa que é frígida.
É um apelo irresistível, uma ária de sereia. A milícia cai em peso, indiferente ao seu estado civil e time de futebol.
Ao replicar com “Mesmo?”, o cara mordeu a senha e será devorado no fundo do Rio Guaíba. Eu já fui ludibriado quatro vezes na juventude. Por mais que repetisse a experiência, não reconheci a cilada.
A frase mexe com a vaidade do varão, com o ego de gladiador. Desperta o sonho primitivo de ser o Messias das fronhas, o salvador dos lençóis.
Quando escuta que ela nunca gozou, todo rapaz se enche de autoridade, já imagina o milagre: ela, atenta às instruções; ele, mandando na cabeceira da cama:
– Deita e goza!
É melhor do que ser o primeiro na cama; é tirar a virgindade do prazer. O homem sente-se o rufião dos gemidos, o encanador do internato, o jardineiro do convento. Não há como explicar o baque da declaração na alma viril.
A relação que era comercial ou residencial assume a condição de patrimônio histórico da Unesco. A namorada recebe regalias de gravidez. Neste caso, o cara tomba sua vida. É capaz de solicitar férias no trabalho para se dedicar ao assunto, para ajudá-la no firme propósito de mapear o ponto G. Não existirá nada tão importante quanto treinar posições e mostrar serviço.
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Nem é sexo, porém filantropia sexual.
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O prazer mais verdadeiro – às vezes – vem de uma mentira.
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 7/06/2011
Porto Alegre (RS), Edição N° 16723