TODO CASADO POR MUITO TEMPO É TARADO
Arte de Egon Schiele
Quando alguém confessa que está casado há 30 anos, ataco:
– Tarado!
Ele tenta se explicar, logo repito:
– Tarado!
Ele gagueja, e gesticulo com o dedo:
– Tarado!
Ficar com a mesma mulher todo dia é obra de maníaco sexual. Não tem o que acrescentar. É safadeza em demasia. Sério, sem brincadeira, o homem casado é um pervertido. Deveria ser preso por atentado ao pudor. Não poderia sair por aí espalhando o exemplo.
Há a crença equivocada de que o solteiro dispõe de um harém, que pode sair livremente e aproveitar sua sexualidade sem dar satisfação. Que nada. O solteiro não larga a primeira marcha – ao engatar a terceira e correr um pouquinho, já troca de caso e necessita conhecer o percurso inteiro de novo.
O casamento é a porta dos sentidos, a autêntica libertinagem, o elo perdido do Marquês de Sade.
Sabe mais sobre sexo quem transa com a mesma mulher durante décadas do que aquele que tem uma diferente a cada manhã. É como jogador de futebol, que atua muito melhor com a sequência de partidas.
Mulher não é diversidade, é permanência. Ela se solta ao longo da convivência, impõe seu ritmo lentamente, até formar um estilo para se vestir e outro para se despir.
Depende de tempo para expor suas fantasias. Afortunado é o que não se separa antes dos cinco anos.
Com a intimidade, sua companhia realiza acrobacias inacreditáveis, transforma as janelas em trapézios; os trapézios, em escadas de incêndio.
Uma mulher devota é capaz das maiores obscenidades. Porque o amor tira a culpa, o amor elimina o preconceito, o amor não sofre de nojo.
Uma mulher devota enlouquece o marido. Cria suspense na hora certa, desarma o ciúme no último minuto. Tem informações privilegiadas sobre a vítima: conhece seus pontos fracos, o lugar do arrepio atrás do ouvido, onde tocar para acelerar ou retardar o prazer, o que falar para enervar o silêncio.
Uma mulher devota é irresistível, rodará a casa por um afago, estará reaproveitando os suspiros do dia nos gemidos de noite.
Uma mulher devota desfruta de segurança no relacionamento para correr riscos no quarto.
Vá se acostumando com a ideia: sua esposa humilha qualquer profissional, pois entra na cama para ganhar, não joga amistoso, não faz cera, não tem interesse a não ser o próprio orgasmo.
Sua esposa que é pornográfica. Ela dedicará absoluta atenção na transa, a atenção cristalina que vem da carência. Nada passará em branco, nada será esquecido.
As insanidades indescritíveis são experimentadas no matrimônio. Os casados são bando de loucos, irresponsáveis.
O altar perdoa a cama.
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 10/04/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 1735