Blog do Carpinejar

TOQUE

Arte de Egon Schiele


Masturbação feminina é inconciliável com a masculina.

Se a senhora tem alguma dúvida sobre orgasmo múltiplo, não pode negar seu inegável talento para a excitação prolongada. Não diga que é natural, não humilhe seu parceiro, tampouco menospreze o dom. O homem não conhece esse controle remoto do corpo.

A mulher é bem capaz de se masturbar no chuveiro, transar no quarto e não haverá nenhuma diminuição do ritmo. Sua nudez é insaciável. Assim como demora mais para se excitar, demora muito mais para abandonar a excitação. O homem facilmente se prontifica, porém larga a atmosfera com enorme rapidez.

O orgasmo liquida o homem e reinventa a mulher. Virtude de um, defeito do outro.

A fêmea ama na volta (o homem somente ama na ida). Não negará o sexo mesmo que tenha se violentado secretamente. Ficará inflamada. Desejosa. Sequiosa.

Sua libido é narração. Pretende continuar com a fantasia, aumentar a trama, propor encruzilhadas.

Caso seu parceiro pedir e merecer (as duas operações são complementares), ainda que já tenha gozado sozinha, seguirá adiante, procurando ir além do gemido. Os braços masculinos serão a continuidade dos seus dedos.

Tanto que o homem é tarado antes do ato, a mulher é tarada depois dele.

Levando o fôlego como parâmetro, mulher na cama é romancista, homem é poeta, isso quando ele não inventa de fazer haicais.

A excitação dos machos é monotemática. Até hoje supõe que bater uma é anular a chance de sexo no dia. Sua masturbação é como uma saída de emergência. Não é um aperitivo, uma preliminar, mas a aceitação do fracasso. É como um desabafo, algo como não deu para aguentar.

Nenhum adulto confessa com orgulho para sua namorada ou esposa: bati uma punheta. Tem receio de receber um olhar piedoso, de Seguro-Desemprego.

A fase adulta traz a imperiosa necessidade da transa para ser feliz. Superada a adolescência, o homem se masturba a contragosto. Lamentando que não tenha um resultado melhor. Provável que isso demarque toda sua conduta psicológica. Vive a resignação, uma espécie de solidão indesejada. Acha que se tocar é o deserto da agenda, a absoluta falta de aventura, um sinal de rejeição, que ninguém o quer, nem ele.

Na hipótese de se masturbar e transar no mesmo turno, sofrerá de retardo mental. Sem pressa alguma. Sem volúpia. Com dificuldade de concentração. Seu objetivo é um só: gozar de novo. Não é de continuar gozando. Pensa que traiu sua companhia com a ejaculação solitária.

É um processo semelhante quando escolhemos uma música como aviso de chamada do celular. Nunca mais teremos condições de apreciá-la, apesar de ser a nossa balada favorita. Os ringtones matam a leveza imaginária da canção. O toque lembrará agora trabalho, prazo, incomodação, urgência. Ao ouvir os acordes no rádio, mergulharemos em pânico, tentando localizar o aparelho.

O que me faz crer que a punheta do homem é seu ringtone do sexo.

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