Blog do Carpinejar

TWEETS NA ESTANTE

Carpinejar lança livro apenas com frases de seu twitter

Leonardo Vinhas

Fabrício Carpinejar, escritor e educador gaúcho, tinha 13 livros publicados (Um deles, Canalha!, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Contos/Crônicas em 2009). Agora são 14º, e o 14º veio das frases postadas em seu perfil no twitter. Adequadamente intitulado www.twitter.com/carpinejar (Bertrand Brasil), a obra é uma coletânea de suas frases diretas e cheias de efeito não premeditados. "Se eu me lembro de um sonho, é certo que vou piorá-lo"; "Procuramos sempre justificar vontades sórdidas com motivos nobres"; "O amor é um susto que não perde a graça" e outras.

A Imagine, Carpinejar expôs sua visão entusiasta e singular do microblog.

A concisão dos 140 caracteres funciona mais contra ou a favor da poesia?
A favor. Um dos principais poemas do italiano Giuseppe Ungaretti tem 20 caracteres: M'illumino d'immenso (Ilumino-me de imenso). Não é uma maravilha? Ainda sobram 120 caracteres de lona para o leitor se recuperar da porrada. Quem é confuso que escreva romance, terá todo o espaço do mundo para se alongar, quem deseja confundir escreva poesia, que é tirar espaço do leitor. O twitter é a nitroglicerina digital que todo o bardo ansiosamente aguardava. E eu que já me contentava com o torpedo, hein?

Por que compilar essas frases em um livro?
Para acabar com a desconfiança com o twitter (toda ferramenta carrega suspeitas em seu início), para expor meu lado frasista e bem humorado, para treinar meu epitáfio, para mostrar que a internet não substitui o livro, mas aumenta a excitação pelo papel. O livro é a única tomada que podemos colocar a mão e ainda sobreviver.

O Twitter virou uma compulsão para você?
Sim, uma obsessão pela melhor palavra, pelo melhor arranjo. Aquelas anotações sem eira nem beira, sem pai nem mãe, que não encontrariam sentido para um poema ou uma trama entram lá. É o mesmo que anotar um relâmpago. Somos injustos com a brevidade, parece que não tem credibilidade, esforço, seriedade. Livro sério tem que ser livro imenso. Faz favor, a chuva só escurece o que o relâmpago clareou. O twitter é o guardanapo dos bares virtuais. Não esquecerei mais de ligar para mim.

Seu filho Vicente também twita. É inevitável que as crianças tomem parte do Twitter?
É inevitável, mas os pais precisam que a convivência seja prazerosa e responsável. Quando meu filho entra na internet, ele sai para a rua. Preciso ensiná-lo a atravessar a linguagem, a olhar aos lados e cuidar com quem fala. Não é soltá-lo na rede e dizer: - Agora se vira. Isso é preguiça. Serei pai dele neste e em qualquer dos seus mundos.

Publicado na Imagine
Revista da TVA
Número 8, Janeiro de 2010
Seção Chat, Ps. 10 e 11

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