UMA BEM DADA, E ACABOU
Arte de Eduardo Nasi
Se você quer uma, duas ou três numa noite, procure um adolescente, um jovem de menos de 30 anos.
Não eu. Não vou mentir que sou herói da volúpia. Minha fase epilética e vulcânica acabou. Tive meus momentos de aplicar a tríplice vacina e conservo a carteirinha de saúde com ternura.
Não eu. Não vou mentir que sou herói da volúpia. Minha fase epilética e vulcânica acabou. Tive meus momentos de aplicar a tríplice vacina e conservo a carteirinha de saúde com ternura.
O homem quando completa quatro décadas adere ao período performático.
Larga o passado velocista para economizar o fôlego. Não irá se expor a piques desnecessários.
Seu diferencial é o alto aproveitamento das raras chances de gol.
É uma bem dada, e acabou. Talvez enfrente morte súbita ou decisão de pênaltis em jogos decisivos, mas representam exceções, não leve em conta.
1 a 0 já são três pontos. Não competirá com a amante, ou humilhará os adversários com goleada.
É uma bem dada, o resto põe na conta dos espasmos, encenações, contrações.
Homem com quatro décadas é um ator da intimidade. Pisca para a câmera, tira a roupa com lentidão, discute o relacionamento, geme alto, finge ápices.
É o sexo com estilo. Mais caprichado, mais cênico.
É o sexo pensado, retórico.
É o sexo catimbeiro, com espiadelas no espelho e conversas laterais.
É o sexo reflexivo, com gentilezas e intervalos para pegar água gelada.
É o sexo intensivo, com massagens, preliminar e cafuné.
Homem de quarenta anos muda sua visão da cama. Incorpora o temperamento roleta-russa. Coloca uma bala no tambor, mira com firmeza e apenas atira com a certeza do tombo.
O quarentão não vai correr como louco, tem como virtude o posicionamento na pequena área. Está sempre em condições privilegiadas para receber e finalizar.
Aprendeu a controlar o orgasmo, e a se poupar ao orgasmo.
Ele acelera o clímax pelo desaforo, reduz com o elogio. Seu dom é a fala, mistura putaria com poesia ao ouvido:
— Minha vadia, sua respiração segue o ritmo da música ambiente. Não existe pele mais afinada.
A atitude é acrobática. Lembra um trapezista dos travesseiros, um domador de edredons.
Não é selvagem, aquilo de penetrar de pé e ejacular de susto, mas tampouco é desligado e indiferente. Dedica-se a obedecer ao ritmo feminino, a honrar os altos e baixos da montaria.
Seus pulos são calculados, profissionais, nunca cedendo ao risco de cãibras e torções.
Rebola com acento, beija com ênfase, prende o jogo, não tem pressa nenhuma. Desenvolve o pescoço e não cansa do bailado de barco.
O que ele deseja é gozar depois dela. Muito depois. Como um favor. Após tremenda súplica.
Larga o passado velocista para economizar o fôlego. Não irá se expor a piques desnecessários.
Seu diferencial é o alto aproveitamento das raras chances de gol.
É uma bem dada, e acabou. Talvez enfrente morte súbita ou decisão de pênaltis em jogos decisivos, mas representam exceções, não leve em conta.
1 a 0 já são três pontos. Não competirá com a amante, ou humilhará os adversários com goleada.
É uma bem dada, o resto põe na conta dos espasmos, encenações, contrações.
Homem com quatro décadas é um ator da intimidade. Pisca para a câmera, tira a roupa com lentidão, discute o relacionamento, geme alto, finge ápices.
É o sexo com estilo. Mais caprichado, mais cênico.
É o sexo pensado, retórico.
É o sexo catimbeiro, com espiadelas no espelho e conversas laterais.
É o sexo reflexivo, com gentilezas e intervalos para pegar água gelada.
É o sexo intensivo, com massagens, preliminar e cafuné.
Homem de quarenta anos muda sua visão da cama. Incorpora o temperamento roleta-russa. Coloca uma bala no tambor, mira com firmeza e apenas atira com a certeza do tombo.
O quarentão não vai correr como louco, tem como virtude o posicionamento na pequena área. Está sempre em condições privilegiadas para receber e finalizar.
Aprendeu a controlar o orgasmo, e a se poupar ao orgasmo.
Ele acelera o clímax pelo desaforo, reduz com o elogio. Seu dom é a fala, mistura putaria com poesia ao ouvido:
— Minha vadia, sua respiração segue o ritmo da música ambiente. Não existe pele mais afinada.
A atitude é acrobática. Lembra um trapezista dos travesseiros, um domador de edredons.
Não é selvagem, aquilo de penetrar de pé e ejacular de susto, mas tampouco é desligado e indiferente. Dedica-se a obedecer ao ritmo feminino, a honrar os altos e baixos da montaria.
Seus pulos são calculados, profissionais, nunca cedendo ao risco de cãibras e torções.
Rebola com acento, beija com ênfase, prende o jogo, não tem pressa nenhuma. Desenvolve o pescoço e não cansa do bailado de barco.
O que ele deseja é gozar depois dela. Muito depois. Como um favor. Após tremenda súplica.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira