ADEUS NÃO É TCHAU
Texto: Fabrício Carpinejar
Foto: Gilberto Perin
Separação não é discussão de relacionamento. Estaremos já fora do relacionamento para discutir.
Separação não é chantagem para ter as suas exigências atendidas. Separação não é suborno, para retornar mais intransigente do que antes. Separação não é férias, para poder sair livremente, ficar com novas pessoas e recuar apaziguado. Separação não é simulação, gritar que é a última vez quando não é nem a penúltima.
Separação não é greve, não é passeata por melhoria de condições. Separação não é manha, não é orgulho ferido. Separação não é magoar à toa, ferir gratuitamente, ofender sem pensar e ressurgir arrependido. Não é bater à porta para o outro correr atrás. Não é disputa para ver quem é o mais fraco. Não é desabafo, muito menos catarse, não é despejar o que estava guardado.
Não é caderninho de fiado, juros de investimento. Não é parcelamento da angústia. Não é pacto de carências, choro coletivo. Não é dar um tempo para se restabelecer. Não é sair de perto. Não é esfriar a cabeça. Não é conversar com os amigos para decidir a reconciliação. Não é um jeito de chamar atenção. Separação não é blefe, não é fingimento, não é uma brincadeira a dois, não é diversão de fantasmas, não é encenar a morte e imaginar quem vai no velório.
Separação não tem hora para voltar, não é para voltar. Separação não é um intervalo para a dor almoçar, para o sofrimento lanchar. Separação não é produzir saudade. Separação não é para descobrir a fundura da falta. Separação não é tomada de consciência, eletrochoque da sinceridade. Separação não é independência, amor próprio, reencontro das raízes - não tem nada de nobre e restaurador.
Separação é coisa séria. É absolutamente cansativa e ultrajante: fazer a malas, derrubar os cabides, inventariar os pertences, dividir os suspiros, chorar o futuro perdido, datar as fotos felizes, realizar escuta das últimas trocas de mensagens, trocar o corpo de casal pelos lençóis de solteiro.
Não confunda com uma situação provisória. É terminar os laços, é romper com a convivência, é desistir de alguém, é abandonar a casa.
Coluna semanal em O Globo
Publicado em 16.06.2016