Blog do Carpinejar

AMAR DEMAIS É APENAS AMOR

Arte de  Eduardo Nasi

Amar demais não é crime. Amar demais não é doença. Amar demais não é pecado.

Amar demais não é um atentado. Amar demais não é desespero. Amar demais não é carência. Amar demais não é um abuso.

Amar demais não é uma violência. Amar demais não é um desequilíbrio.

Amar demais é amar. É estar amando um pouco mais do que ontem e um pouco mais do que hoje e um pouco mais porque a memória se espalha na imaginação e o desejo não tem cura.

Não existe amor demais, existe amor de menos, existe desamor.

Não existe amor demais, existe amor necessário, amor essencial, amor crescendo.

Não existe amor demais, existe amor e ponto. Amor com sua lógica incoerente, seu pulmão de coração, sua febre ansiosa.

Amar demais é amar sofrendo como todos que amam. É amar inseguro como todos que amam. É amar desconhecendo as fronteiras como todos que caminham com a boca.

Amar não tem régua de abraço, não tem bafômetro de beijo. Não há como dizer que um ama mais do que o outro, ou que um ama pelo outro.

Os amores se misturam quando se ama. Os amores não param de se transferir. Os amores não cessam de recomeçar.

O amor é uma saudade que não se contenta em chegar. É — ao mesmo tempo — o medo de não ser mais ninguém e a alegria de ser tudo.

O amor não é um gesto isolado, impreciso, parado. É um gesto contínuo.

Amor é velocidade. Não conheço jeito de fotografar o amor, e definir: — Este é o seu tamanho!

Amor é desobediência. Não conheço jeito de estancar o amor, e declarar: — Este é o seu limite!

Amar demais é amar correndo com o batimento. É jurar que o mundo vai terminar se o amor terminar. É querer morrer de tanto viver. É nascer brigando e dormir beijando.

É amor, e deu, não inventaram modo mais calmo, versão reduzida, plano controlado.

Amor é uma paz ensandecida, uma guerra calma, uma curiosidade insaciável.

Amar demais não deveria assustar. É como impor cor ao crepúsculo, intimidar a mancha luminosa da lua, censurar um pássaro no alvorecer, trancar o rebanho de estrelas no estábulo de uma nuvem.

Amar demais é querer mais do mesmo amor, é se fartar e sempre faltar, é encontrar procurando, é achar se perdendo, é abençoar amaldiçoando.

Amar demais não tem uma imagem tranquilizadora, um objetivo, uma linha de chegada.

Amar demais não tem controle, pedágio, fiscalização. É realmente assustador. É realmente terrível.

Amar é demonstrar e não se contentar, é repetir e ainda ser inédito, é se arrepender já em pensamento.

Amar é escolher e não se acomodar, é cumprimentar uma vez e jamais se despedir.

Não há amor errado, mas amor aprendendo.

Não há amor demais. É amar como nunca antes. É amar transbordando vento e virando caminho.

Amar demais é amar. Será doação, entrega, não se controla o que foi oferecido, não se cobra de volta.

Se alguém diz que você ama demais, peça uma carta de recomendação.






Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira

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