Blog do Carpinejar

BONECAS NÃO TÊM PELOS PUBIANOS

Arte de Eduardo Nasi

Saudade de Sônia Braga, de Cláudia Ohana, das divas envaidecidas dos pelos pubianos.

Abrir uma revista Playboy correspondia a sempre se maravilhar com os desenhos abastados no centro das virilhas.

O sexo feminino cobria os lábios, e as deusas criavam um mistério maior na abertura das pernas.

Os ritos mandavam na excitação. Respeitávamos o suspense. Para começar a peça, o teatro dependia primeiro do movimento das cortinas.

Até o cheiro vinha diferente, adocicado, com o suor acumulado das coxas. Não dava para resistir ao apelo.
 
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Hoje a maior parte das mulheres decidiu se depilar totalmente. Cortou as madeixas íntimas.

A infantilização da nudez ameaça o nosso prazer.

São corpos meninos, corpos sem idade.
 
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Tornou-se costume raspar os pelos na íntegra. Nem mais um arbusto protegendo o caminho. Nem mais uma tarja preta para promover o pecado.
 
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Será que não é uma pedofilia enrustida, a fantasia da colegial de meias 3/8 e saias plissadas perpetuada no inconsciente?

Será que não é um desejo involuntário de se transformar numa Barbie ou numa Susie, já que as bonecas não têm pelos?

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Não sei exatamente qual a explicação. Tenho só hipóteses. Pode ser também higiene, ou uma maneira de aproveitar as promoções da depilação definitiva. Pode ser preguiça, ou um truque para inspirar o sexo oral dos parceiros.

O que garanto é que os homens cansam fácil da ausência de penugem.
 
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É um desrespeito ao raciocínio do macho. Um atentado à nossa lógica cartesiana. É o mesmo que colocar pornografia no meio de Bambi.
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Mulher toda depilada é uma fusão esquisita de Cicciolina com Cinderela. É Walt Disney produzindo um filme pornô.

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Os pelos pubianos eram a nossa preliminar romântica, nosso espetáculo erótico, nosso jogo de adivinhação.

Havia uma curiosidade masculina para desvendar a cor natural: ruivos, loiros, morenos. Sonhávamos com a descoberta real da tez de nossa companhia. Ela poderia nos enganar com os cabelos, mas não lá embaixo.

Deliciávamos em colocar a mão em concha na calcinha e experimentar a natureza dos fios, ora lisos, ora crespos.

Naquele tempo em que não nos envergonhávamos da passionalidade.
 




Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
 

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