FIM DA RELAÇÃO NAS REDES SOCIAIS
Texto Fabrício Carpinejar
Arte Eduardo Nasi
O namoro tem leis cibernéticas, menos explícitas do que alterar o status no Facebook.
Se você recebe um e-mail de seu namorado ou namorada sem assunto é término da relação. Lascou. É tanto ódio que a pessoa nem colocou um tema para a mensagem. A raiva sofre de pressa e indecisão.
Ou como intitular uma mensagem nesta hora sem desestimular a leitura? Ao pôr “Separação” ou “Idiota” ou “Não me procure mais”, o destinatário nem precisa ler para definir o conteúdo. Está literalmente excluído. Pode apenas descobrir o motivo, e nada mais.
Cartas sem nenhum aviso são as mais perigosas.
O WhatsApp não foge à regra. Destinado à peça teatral ou ao roteiro de cinema da vida real, quando carece de travessão, algo trágico aconteceu. Textão é sinônimo de ruptura. É alguém mandar um texto imenso e ininterrupto num lugar feito para conversas miúdas significa testamento. Você nem vê o outro digitando, de repente surge um calhamaço explicando por a e mais b o motivo do término do romance. Óbvio que a enxurrada de ofensas saiu do bloco de notas e foi copiada, recortada e colada ali. Toda a passionalidade escrita é premeditada. Tentará responder, mas será bloqueado. A foto do interlocutor desaparecerá antes de entender o que está acontecendo, para aumentar o drama e o castigo.
Monólogo é o bilhete de suicida do casal. Mais de duas páginas é um caminho sem volta. Não terá como reverter o quadro e buscar a reconciliação. O ressentimento transformou o desencanto em peça de inquérito.
Quem se se separa tampouco usa emojis. Não está disposto a brincar. É letra sobre letra, desprovida de recreios e distrações, como bula de remédio. Não há intenção de descontrair com um revólver ou uma mão rezando.
Publicado no Portal Vida Breve
Coluna Semanal
16.11.2016