Blog do Carpinejar

O ENRUSTIDO

Arte de Christian Schad


Por que um homem chama outro de feio, de ET, de monstro, quando ele passa na rua e nem conhece?

O que o impulsiona a caracterizar um comparsa do mesmo sexo de alienígena?

Atração sexual!

É o desejo que fará um barbado parar seus movimentos, girar seu quadril, largar suas atribulações, a possibilidade de comentar os resultados da última rodada, para ofender um desconhecido. Não é para humilhar e constranger, é vontade de estar junto. Eu, ingênuo, pensava que era bullying. É tara, tesão, hormônios romanos.

Ele não iria se esforçar à toa. Não gastaria saliva com um marmanjo enquanto dispensa de agir com o mulherio à disposição no mundo. Não é pouca coisa. Desperdiça os assobios e os agrados perfumosos às mulheres para se dedicar de corpo e alma a injuriar um alvo masculino. No fundo, está a fim, louco para ter um urso acolchoando seus ombros, um leopardo em seu travesseiro, uma onça em seus lençóis. Banca a hiena para ficar dentro do zoológico e visitar seus colegas durante os sonhos. Não há como se libertar, ainda se vê reprimido pela imagem residual de ruralista e conservador. Negará a impressão até a morte.

Não estou catalogando todos os machos, e sim colocando a luz de palco no tipo truculento, engraçadinho, atacado e que palpita sobre seus amigos e desconhecidos como jurado vitalício do concurso de feiúra. Deve se lembrar de alguém na escola ou no bar, aposto.

Não ataca para se sentir melhor, por insegurança, ou para se sentir mais bonito, por comparação.

As aparências escondem as mais perversas fantasias.

Ao depreciar sistematicamente o outro está expressando suas vontades recônditas. Gostaria de dizer o contrário, que o interlocutor está incomodando com seu magnetismo, que é impossível resistir, mas não tem coragem e desabafa apenas que ele é horrível. É o máximo que consegue sussurrar socialmente. Pra não dar na vista.

Sua provocação é arrebatamento. Sabe-se que homem não perde tempo. Quando ofende, então, prepara um investimento. Ele lança a gozação em nome de uma carência violenta e reprimida.

Qual o sentido de avaliar alguém fisicamente senão o interesse graúdo? O cara está olhando demais, ultrapassou o limite da discrição e se julga culpado pelo interesse e logo empenha uma grosseria para disfarçar.

O enrustido desafora torcendo pela violência física e contato corporal. Reza em segredo:

- Tomara que agora ele venha me pegar!

Em toda a minha vida levei cantadas e não percebi.

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