O MELHOR DO MUNDO
Nem Cristiano Ronaldo, nem Messi, nem Neymar, nem Mbappé. O melhor do mundo neste ano deveria ser um croata: Luka Modrić.Se levar em consideração o seu desempenho na Copa do Mundo, já é ele. Se levar em conta a sua atuação no Real Madrid, com o título da Liga dos Campeões, também é ele.
Carrega e, ao mesmo tempo, toca o piano na seleção da Croácia. Conduziu o seu país a sua melhor colocação da história, enfrentará a Inglaterra na semifinal e não duvido que não traga o Mundial da Rússia para Zagreb.
A diferença de Modrić é que ele não se comporta como um garoto-propaganda. É o equivalente a um Messi com liderança, a um Cristiano Ronaldo sem vaidade, a um Neymar sem manha.
Veterano, com 33 anos, não age como uma estrela, não olha para o telão para ajeitar o cabelo, não reclama exageradamente da arbitragem. Interessa-se apenas em atuar com garra e determinação, dentro do espírito de equipe.
Ao final do jogo, são perceptíveis o seu cansaço, a sua camiseta banhada de suor, o rosto sugado pela vitória.
É um 10 que arma e desarma, que produz o ataque e ajuda na marcação. É um 10 duas vezes 5, duas vezes volante.
Não para um minuto de trabalhar para a orquestra de Ivan Rakitić, Mario Mandžukić e Ivan Perišić.
Mobilizador nato, é um operário do futebol, um insaciável leva-e-traz, um capitão que mostra autoridade técnica (nunca dando chutão para a frente) e moral (nunca desistindo de um lance).
Não espera para receber a bola, movimenta-se na defesa e no ataque, organiza as jogadas e finaliza com perigo (tem dois gols na Copa).
Nem parece ser baixo com 1,74m (quase a mesma estatura de Zico), mas, com a bola no pé, assume a altura do pico da maior montanha croata, Vaganski, com os seus 1757 metros de altitude.
Usando elástico nos cabelos, lembra um tenista. Mas talvez a gominha na cabeça seja uma preparação para receber a coroa de melhor do mundo.
Premiar Modrić é valorizar a discrição batalhadora no futebol, é destacar o crescimento do Leste Europeu, é apoiar o anti-marketing de quem viveu à sombra, é perceber o valor do garçom e das assistências, é festejar os dribles verticais e necessários, é dar um fim e um basta ao concurso de beleza em campo.
Crônica publicada em 08/7/2018