PROFECIA DO NOSSO AMOR

Pela insistência das amigas, Beatriz foi fazer seu mapa astral com especialista no Rio de Janeiro (RJ). No final da conversa, ele cismou:

- Por que não abre duas cartas de tarô para espiarmos seu futuro amoroso?

Não constavam nos planos, mas ela concordou mais por educação do que por vontade, pois enxergar o futuro costuma cegar o presente.

Tirou duas cartas do maço. Uma de cada fileira, escolheu do meio para não denunciar a preguiça.

Apareceram as cartas da morte e do louco.

Ela gelou, pensou que estava ferrada: morte e loucura em dose dupla era o que não precisava ouvir naquela hora.

O astrólogo esclareceu que as aparências enganavam. O louco significa coragem, ousadia e a abertura simbólica ao inesperado e a morte poderia ser traduzida como renovação.

Isso aconteceu uma semana antes de nos conhecermos. Em nossa primeira noite, quando passei nu para buscar água no frigobar, ela soltou um grito. Não era pelo tamanho.

Recuei correndo, completamente assustado.

- O que houve?

Ela colocou suas mãos em meu abdômen, alisando as duas gravuras com a boca aberta.

Expliquei:

- Tatuei as cartas de tarô que mais me representam: o louco e a morte. Nunca temer o amor e nunca temer renascer.

Éramos predestinados. Ela me olhou com ternura e me beijou com a ênfase súbita da intimidade, como se o nosso destino já fosse parte de sua mais preciosa memória.

Crônica publicada em 25/2/2018